Antes mesmo de querer ser ator, ainda na infância, Rodrigo Santoro gostava de abaixar o volume da TV e fazer as vozes de quem estava na tela, preferencialmente em desenhos. Às vezes, cismava em dublar algum adulto, exagerando ainda mais na voz de criança. “Era uma brincadeira. Hoje em dia, faço profissionalmente”, diz o ator ao Estadão.
Santoro, 49 anos, agora, de maneira séria, é uma das vozes da animação Arca de Noé. A coprodução Brasil, Estados Unidos e Índia, que chega aos cinemas em 7 de novembro é dirigida pelo Sérgio Machado, o mesmo de filmes como Cidade Baixa (2005) e A Luta do Século (2016), e pelo peruano Alois Di Leo. Baseada na obra do poeta Vinicius de Moraes (1913-1980), a produção é considerada a maior animação em 3D já produzida no País.
É de Santoro a voz do ratinho Vini. Ele faz dupla com Tom, outro roedor, dublado por Marcelo Adnet – a referência clara a Vinicius e Tom Jobim (1927-1994), parceria de ouro da música popular brasileira. “Eu não podia chegar lá e fazer uma vozinha (faz uma voz estridente) para dublar uma ratinho”, diz Santoro. “Não trabalho dessa forma”, prossegue, com a bagagem de já ter dublado, anteriormente, filmes como O Pequeno Stuart Little 1 e 2 e Rio.
O trabalho de ator, nesse tipo de produção, segundo Santoro, é buscar “humanizar” o personagem – mesmo que ele seja um pequeno ratinho. “Ele está sofrendo por quê? Quais são os conflitos? Pensei como se ele fosse um ser humano mesmo. Essa é a única forma do espectador se envolver, o que é o nosso objetivo”, explica o ator. “Existe um mundo por trás dessa voz”.
A batalha de Vini, no filme, é tentar entrar na arca construída por Noé para proteger os animais de uma tempestade de 40 dias. Ocorre que, assim como a narrativa presente na Bíblia [Arca de Noé não é um filme de caráter religioso e nem apenas infantil], a ordem divina é que embarquem um macho e uma fêmea de cada espécie. Sendo assim, a dupla Vini e Tom precisa ser desfeita. Um deles deve ficar para fora.
Para ter uma liga ainda mais real com Tom, o personagem dublado por Adnet, Santoro propôs ao diretor que ele e o parceiro colocassem a voz juntos, algo que não é tão usual na dublagem. “O Adnet quase não improvisa, né?”, brinca o ator. “Eu inventava, ele inventava em cima. Muitas coisas que vocês vão ver no filme nasceram desses improvisos.”
Um processo arriscado. Um poderia atropelar o outro, e o som poderia não ficar limpo. Santoro, no entanto, gosta desse tipo de desafio. Para ele, era essencial, naquele processo mental que ele se impõe a cada criação de personagem, que os ratinhos Vini e Tom tivessem uma “relação” anterior à ação contada em Arca de Noé. A arte do encontro, como definiria Vinicius de Moraes.
Além de Santoro e Adnet, Arca de Noé ainda tem as vozes de Lázaro Ramos, Alice Braga, Bruno Gagliasso, Julio Andrade, Débora Nascimento, Eduardo Sterblitch, Seu Jorge, Chico César, entre outros.