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Por Redação O Sul | 20 de junho de 2019
Rubens Ewald Filho, nascido em Santos, São Paulo, há 74 anos, saiu de cena nesta semana, no dia 19 de junho, após mais de dois meses enfrentando problemas decorrentes de um infarto e uma queda. O crítico de cinema era um Google do gênero, muito antes do Google existir.
Muitos dizem que Oscar sem Rubens Ewald não é Oscar, sem desmerecer Michel Arouca, responsável pela transmissão deste ano, na transmissão pelo canal TNT. A crítica foi de que o canal poderia ter trabalhado com os dois, o veterano e o novato na função.
Em tese, o canal pago não teve coragem de dispensar Rubens Ewald do evento, mas tratou de deixar gravadas as suas participações na transmissão da festa do cinema, com comentários previamente conhecidos pela direção do canal. Perdeu a chance de vê-lo ao vivo naquela que seria sua última apresentação da premiação.
Ao abrir mão do comentarista na transmissão, o TNT não mais correria o risco de despertar a ira de quem pudesse se ofender com eventuais pareceres dele, dono de uma língua afiada que sempre pareceu um diferencial para a
cobertura, ainda mais por se tratar de alguém que sempre foi um Google no assunto, muito antes de o Google existir.
Mas o rigor politicamente correto tinha outro tom na era pré-Google, e Rubens vinha daquele tempo, sem filtro e cheio de repertório, um perigo para os mais suscetíveis.
Naquele momento em que a cerimônia silencia diante do clipe que anuncia os profissionais da Sétima Arte que nos deixaram no último ano, Ewald deslava uma lista de nomes e ia apresentando um a um, ligeiro, sem perder a sobriedade que a cena pede, descrevendo êxitos e obras de todos. Nunca ninguém fez a apresentação do obituário do Oscar como ele.
Em 2018, uma gritaria no Twitter mostrou indignação pelo fato de o crítico ter dito que Daniela Vega, estrela de “Uma Mulher Fantástica”, era, “na verdade, um rapaz”. Muitos viram o comentário como uma manifestação homofóbica, mas, objetivamente, Daniela era tida como rapaz quando nasceu, ou então não seria chamada como “trans” nem teria sido celebrada como a primeira transgênero numa festa do Oscar, confere?
Quando saiu do ar, naquela que é uma longa transmissão ao vivo em que é impossível acompanhar o blá-blá-blá do Twitter, o estrago já estava feito e ele mal teve fôlego para se defender.
O TNT, na ocasião, defendeu a própria pele, anunciando ser contrário a manifestações homofóbicas, e corroborou-se daí a ideia de que o crítico foi infeliz.
Rubens Ewald não tinha filtro na língua, fosse com homens, mulheres, gays ou trans. Referiu-se a Frances McDormand, ganhadora do Oscar de melhor atriz, como “uma senhora que não é bonita e deu um show de
bebedeira no Globo de Ouro”.
Sobre o ator Aaron Taylor-Johnson, disse que se casou com a diretora Sam Taylor Johnson, 23 anos mais velha, apenas para ser bancado por ela.
De Mel Gibson, reparou: “não é uma boa pessoa”. E de Peter Dinklage, disse, “é anão, mas tem uma atuação excelente”.
Tirando esta última, em que há a restrição “mas” expressamente clara como preconceito, só se pode reconhecer que o seu conhecimento sobre bastidores e filmes trazia informações sem filtro, mas o que poderia ser um bônus se transformou em uma sentença de condenação.
Profissional que trabalhou também como ator e escritor de novelas, Rubens sai de cena sem conhecer o novo remake de um grande sucesso seu: “Éramos Seis”, adaptação que ele e o dramaturgo Silvio de Abreu, chefão do núcleo de teledramaturgia da Globo, fizeram do livro de Maria José Dupré em 1977, para a Tupi, lindamente refeita pelo SBT em 1993 e que agora ganhará sua primeira releitura na Globo, com Glória Pires no papel da Dona Lola.
Rubens exibia uma leitura dos acontecimentos que já foi muito verdadeira e sincera num passado não muito distante. Não via problema em compreender e até perdoar os pecados alheios, mas nem por isso se mostrava insensível a novos comportamentos. As informações são da colunista Cristina Padiglione, do jornal Folha de S. Paulo.