As defesas aéreas russas abateram nessa quarta-feira (21) dezenas de drones ucranianos direcionados a Moscou e arredores. Além da capital, as regiões de Briansk, Belgorod e Kursk, na fronteira com a Ucrânia, e Kaluga, a sudoeste da capital, foram afetadas pelos ataques.
“Esta é uma das maiores tentativas de atacar Moscou com drones”, disse o prefeito da capital, Sergei Sobianin, que especificou que a ação não deixou vítimas ou danos materiais. O ministério russo explicou que um total de 45 drones ucranianos foram destruídos pelas defesas durante a noite.
Ao mesmo tempo, na região de Kursk, tropas russas ainda tentavam conter a ofensiva terrestre lançada pelo exército ucraniano em 6 de agosto. A Ucrânia atacou repetidamente a infraestrutura de petróleo e gás na Rússia desde o início da operação militar russa na Ucrânia em 2022, mas os ataques de drones à capital não são comuns.
Na Ucrânia, as autoridades anunciaram que neutralizaram 50 drones russos. A Rússia, que iniciou em fevereiro de 2022 uma invasão em larga escala contra a Ucrânia, enfrenta desde 6 de agosto uma ofensiva ucraniana sem precedentes na região fronteiriça de Kursk.
A cidade de Moscou e sua região, que ficam a mais de 500 km da fronteira, já haviam sido alvos de ataques esporádicos de drones. Durante o verão (hemisfério norte, inverno no Brasil) de 2023, alguns dispositivos foram destruídos sobre o distrito financeiro da capital. Em maio de 2023, dois drones foram neutralizados perto do Kremlin, no coração de Moscou.
Na madrugada de terça para quarta-feira, 45 drones ucranianos foram destruídos pelos sistemas de defesa aérea da Rússia sobre as regiões de Moscou (11), Bryansk (23), Belgorod (6), Kaluga (3) e Kursk (2), informou o Ministério da Defesa em um comunicado.
O chefe da administração militar de Kiev, Sergei Popko, explicou no Telegram que 10 drones foram interceptados quando seguiam na direção da capital ucraniana. “O ataque aéreo durou toda a noite e seguiu até de manhã, ou seja, mais de nove horas no total”, afirmam as autoridades da região de Kiev.
Além disso, um míssil foi derrubado na terça-feira à noite ao oeste da região de Rostov, na fronteira com a Ucrânia, segundo o governador regional, Vasili Golubev.
Incursão da Ucrânia
A Rússia enfrenta há duas semanas uma grande ofensiva transfronteiriça das forças ucranianas, enquanto as tropas de Moscou prosseguem com o avanço no leste da Ucrânia, na direção da cidade de Pokrovsk. O Exército russo anunciou nesta quarta-feira que tomou o controle de outra localidade ucraniana, Zhelane, que fica entre as cidades de Donetsk e Pokrovsk.
O país foi pego de surpresa pela ofensiva. Quase uma semana após a invasão, Putin foi visto aparentemente desconfortável numa reunião televisionada de seu conselho de segurança. O líder russo interrompeu o governador regional, que listava os assentamentos capturados, e se referiu aos “eventos na região de Kursk” como uma “provocação”. A mídia estatal seguiu no mesmo tom, mostrando civis em filas para receber ajuda ou doando sangue, como se a situação fosse um desastre humanitário e não o maior ataque à Rússia desde a Segunda Guerra.
Seis dias após a invasão das tropas da Ucrânia, um alto funcionário da segurança ucraniana disse à AFP que o objetivo era “deslocar as posições do inimigo, infligir o máximo de perdas, desestabilizar a situação na Rússia e transferir a guerra para o território russo”.
Nas últimas semanas, porém, o Exército russo reivindicou a tomada de uma série de localidades no país vizinho, e nesta quarta-feira disse ter ocupado a aldeia de Zhelanne, situada entre Donetsk e Pokrovsk — um núcleo estratégico onde as autoridades ucranianas ordenaram a saída das famílias com crianças. Autoridades ucranianas precisaram ordenar a retirada de civis da região.
Analistas acreditam que Kiev esperava que a incursão das suas forças na região russa de Kursk forçaria Moscou a desviar tropas de outras partes do front de batalha. Mas até o momento não há indícios de redução nos combates no leste da Ucrânia.
Na semana passada, o conselheiro presidencial ucraniano Mikhailo Podolyak disse que “a Ucrânia não tem a intenção de ocupar territórios russos”, mas que controlar esses locais pode servir para forçar a Rússia a negociar.
“Trata-se de uma jogada para trocar, se necessário, a área conquistada por outros territórios ucranianos tomados pela Rússia”, disse à AFP Pierre Razoux, diretor acadêmico da Fundação Mediterrânea de Estudos Estratégicos (FMES), um centro de reflexão na França.
Na segunda-feira, porém, o Kremlin afirmou que “não falará” com a Ucrânia por causa da incursão. O conselheiro de Putin, Yuri Ushakov, disse que, “no momento, seria completamente inapropriado iniciar um processo de negociação”. As conversas entre as duas partes estão bloqueadas desde 2022, pouco após o início da guerra. Zelensky, por sua vez, disse que deseja elaborar um plano para novembro, data das eleições presidenciais nos EUA (aliado vital de Kiev), que sirva de base para uma futura reunião de cúpula da paz. As informações são do jornal O Globo.