Em vários comunicados diferentes, a Rússia deu sinais nesta sexta-feira (25) de que a sua ofensiva na Ucrânia pode se limitar à frente Leste, onde separatistas apoiados por Moscou atuam desde 2014. Após um longo período em silêncio, o Ministério da Defesa russo disse que a primeira fase da operação militar no país vizinho está “praticamente concluída” e que agora se concentrará em “libertar” completamente a região de Donbass.
A possibilidade de invadir grandes cidades na Ucrânia não está descartada, mas o principal objetivo dos militares russos é a tomada completa de Donbass, afirmou Sergey Rudskoy, chefe da Direção Operacional Principal do Estado-Maior das Forças Armadas russas.
“Os principais objetivos da primeira etapa da operação foram em geral alcançados”, disse Rudskoy. “O potencial de combate das Forças Armadas da Ucrânia foi consideravelmente reduzido, o que permite concentrar nossos esforços centrais em alcançar o objetivo principal, a libertação de Donbass.”
Segundo ele, a Rússia inicialmente não planejava invadir cidades de outras regiões da Ucrânia que foram cercadas, para “evitar a destruição e minimizar as perdas entre civis e pessoal russo”.
“Por isso, foi escolhida a segunda opção [a concentração dos esforços em Donbass], prevendo também ações em todo o território da Ucrânia, com a implementação de medidas para a sua desmilitarização e desnazificação”, disse.
Esta é a primeira vez que a Rússia chama a conquista de Donbass de seu principal objetivo. Embora sempre tenha citado como exigências o reconhecimento por Kiev da soberania russa sobre a Península da Crimeia, anexada em 2014, e da independência das repúblicas separatistas pró-Moscou de Donbass, o governo de Vladimir Putin nunca antes falara na superioridade dessas demandas em relação à “desmilitarização” e à “desnazificação” da Ucrânia, informadas desde o início da invasão russa.
O anúncio corrobora as indicações de que a Rússia pretende mudar suas metas para ambições mais limitadas, após adotar uma estratégia militar com dispersão das forças em muitas frentes e enfrentar uma forte resistência ucraniana no primeiro mês da guerra. Concentrando-se em Donbass, o governo russo evita diluir forças e pode alcançar avanços mais rápidos, a fim de obter uma conquista que lhe permita reivindicar vitória internamente. Além do Leste, as forças russas atuaram em outras frentes imperfeitas, no Norte, onde está Kiev, e no Sul.
As agências de notícias russas citaram o Ministério da Defesa dizendo que os separatistas apoiados pela Rússia agora controlam 93% da região de Luhansk e 54% da região de Donetsk, as duas áreas que compõem Donbass. Atualmente, a Rússia tenta conquistar Mariupol, no litoral do Mar de Azov, contíguo ao Mar Negro, a cidade sitiada que enfrenta a situação humanitária mais calamitosa da guerra, e conectá-la ao oeste de Donetsk, em um movimento de pinça.
Se tomar Mariupol, a Rússia também pode alegar ter alcançado a “desnazificação” ucraniana, pois lá é a sede do Batalhão Azov, milícia de caráter neonazista incorporada à Guarda Nacional ucraniana. “Pode-se imaginar como essa história pode ser transformada em uma narrativa de sucesso para o público interno”, disse Michael Kofman, analista militar do CNA, um centro de estudos de Washington.
Mariupol fica no caminho para a Crimeia. O Ministério da Defesa da Ucrânia disse nesta sexta-feira que as forças russas conseguiram criar parcialmente um corredor terrestre até a península a partir do território de Donetsk. O corredor não atravessa Mariupol, mas se desvia da cidade.
Militares russos mortos
A Rússia reconheceu que 1.351 soldados em suas fileiras morreram desde o início de sua ofensiva militar na Ucrânia há um mês. “Durante a operação militar especial, 1.351 militares morreram e 3.825 ficaram feridos”, declarou Rudskoy.
O último balanço oficial de Moscou, publicado em 2 de março, contabilizava 498 soldados russos mortos na Ucrânia, mas Kiev afirmou que a Rússia sofreu perdas muito maiores.
Rudskoy descreveu como um “grave erro” a entrega de armas à Ucrânia por parte dos países ocidentais. “Isso prolonga o conflito, aumenta o número de vítimas e não terá nenhuma influência no resultado da operação”, afirmou o militar.
Além disso, Rudskoy afirmou que a Rússia “responderá de acordo” se a Otan instaurar uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, um pedido reiterado por Kiev há várias semanas.
Enquanto isso, o diretor do Centro Nacional de Gestão de Defesa da Rússia, Mikhail Mizintsev, informou que a Rússia recebeu 419.736 refugiados da Ucrânia desde o início da operação. As informações são do jornal O Globo e da agência de notícias AFP.