O governo da Rússia afirmou nesta quarta-feira (4) que não haverá, por enquanto, um encontro entre o papa Francisco e o presidente do país, Vladimir Putin, como havia sido solicitado pelo pontífice.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alegou que Moscou e o Vaticano “não alcançaram um acordo” para uma possível audiência de Putin com o papa para falar sobre a guerra na Ucrânia.
Em entrevista ao jornal italiano “Corriere Della Sera”, o papa Francisco disse que pediu uma reunião, em Moscou, com Putin, para tentar parar a guerra na Ucrânia. Porém, ele informou ao jornal que não recebeu resposta do russo.
Francisco tem sido um duro crítico aos ataques das tropas russas na Ucrânia. A maioria de seus discursos e sermões feitos desde o início da invasão da Rússia ao país vizinho, em 24 de fevereiro, mencionam a guerra atual. Em um deles, o pontífice criticou diretamente o presidente russo.
Líder ortodoxo
O líder da Igreja Ortodoxa russa, o Patriarca Kirill, repreendeu nesta quarta ao papa Francisco por uma fala do pontífice criticando a proximidade de Kirill com o presidente da Rússia.
O papa disse ao “Corriere Della Sera” que o patriarca Kirill “não pode se tornar o coroinha de Putin”. Kirill é um forte aliado do presidente russo e apoia a invasão da Rússia à Ucrânia.
Nesta quarta, o líder ortodoxo declarou, através de um comunicado, que Francisco usou “o tom errado” ao se referir a ele dessa maneira. A Igreja Ortodoxa chamou o episódio de “lamentável”.
“O papa Francisco escolheu um tom incorreto. Essas declarações dificilmente contribuirão para o estabelecimento de um diálogo construtivo entre a Igreja Católica Romana e as Igrejas Ortodoxas Russas”, afirmou o Patriarcado de Moscou em um comunicado.
Tensão
As declarações elevam as tensões entre as duas igrejas, que vinham ensaiando um diálogo. Em 2016, Francisco e Kirill mantiveram um encontro histórico em Cuba. Há um mês e meio, os dois líderes religiosos haviam se falado por telefone.
Ambos tinham um encontro agendado para junho em Israel, mas, na semana passada, o papa anunciou que decidiu cancelar a reunião após ser aconselhado pelo Vaticano, por conta da postura de Kirill sobre a guerra.
O líder ortodoxo tem defendido as investidas das tropas russas desde o início da invasão de seu país à Ucrânia, o que abriu fendas dentro da própria Igreja Ortodoxa Russa, a maior entre as Igrejas Ortodoxas, que romperam com o cristianismo do Ocidente em 1054.
O Vaticano ainda não se manifestou sobre as declarações do líder da Igreja Ortodoxa russa.