Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de maio de 2022
A Rússia intensificou nesta sexta-feira (20) sua ofensiva no Donbass, no Leste da Ucrânia, bombardeando de forma dura Sievierodonetsk, um dos últimos bastiões controlados pelas forças de Kiev em Luhansk, uma das duas repúblicas separatistas pró-Moscou no Sudeste ucraniano.
Em Luhansk e Donetsk, que o presidente Vladimir Putin reconheceu unilateralmente como independentes antes de invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro, os separatistas travam uma guerra contra as forças ucranianas desde 2014.
Sergei Shoigu, o ministro da Defesa da Rússia, afirmou nesta sexta que as tropas russas estão perto de controlar totalmente a província.
“A libertação da República Popular de Luhansk está perto de ser concluída”, declarou Shoigu, citando o autoproclamado nome da província separatista em Luhansk, durante uma reunião com funcionários do ministério e do Exército, de acordo com agências de notícias russas.
Putin já havia anunciado no mês passado que a nova fase de sua operação militar era “liberar” completamente a região do Donbass.
Sievierodonetsk e a cidade vizinha Lyshchansk formam a parte leste de um bolsão ucraniano que a Rússia tenta invadir desde meados de abril, após falhar na captura de Kiev. O Estado-Maior da Ucrânia admitiu que Moscou lançou uma ofensiva em Sievierodonetsk, mas disse que sofreu perdas e foi forçada a recuar.
Também nesta sexta, a Guarda Nacional da Ucrânia divulgou um vídeo que mostra a destruição de uma ponte que liga Severodonetsk à cidade de Rubizhne, em uma tentativa de desacelerar o avanço das tropas russas na área.
O governador de Luhansk, Serhiy Gaidai, disse nesta sexta que militares russos dispararam contra uma escola em Severodonetsk, onde 200 pessoas — muitas delas crianças — estavam escondidas. Segundo ele, três adultos morreram.
Gaidai afirmou que cerca de 11 mil casas foram “parcial ou completamente destruídas” em Luhansk, acrescentando que as perdas econômicas são estimadas “em centenas de bilhões de hryvnias (a moeda ucraniana)”. As declarações, porém, não puderam ser verificadas de forma independente.
“O Exército russo iniciou uma destruição muito intensa da cidade de Sievierodonetsk. A intensidade do bombardeio dobrou, eles estão bombardeando bairros residenciais, destruindo casa por casa”, disse Gaidai em seu canal do Telegram.
No dia anterior, ataques da artilharia russa em Sievierodonetsk e em áreas próximas mataram 12 pessoas, segundo o governador.
Apesar de perder terreno em outros lugares nas últimas semanas, as forças russas avançaram na sua frente em Luhansk, no que alguns analistas militares veem como um grande esforço para alcançar objetivos reduzidos de guerra de capturar todo o território reivindicado por separatistas pró-Rússia.
Na noite de quinta-feira (19), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, havia descrito as condições no Donbass como um “inferno”, afirmando que a região foi “completamente destruída” pela invasão russa.
Capturar Luhansk e Donetsk permitiria que a Rússia reivindicasse mais uma vitória, segundo seu objetivo divulgado no mês passado. O Kremlin já deu outro passo adiante na guerra esta semana, quando a Ucrânia ordenou nesta sexta-feira que sua guarnição na cidade de Mariupol, onde fica o principal porto do Donbass, depusesse suas armas após um cerco de quase três meses.
Horas depois, o último grupo de combatentes se entregou, segundo o ministro da Defesa russo, elevando para 2.439 o total de oficiais que deixaram o complexo siderúrgico de Azovstal desde a última segunda (16), quando foi alcançado um acordo para a rendição. Como a usina representava o último reduto de resistência ucraniana na cidade portuária, a rendição completa significa que agora a Rússia está com o total controle de Mariupol.
“Hoje, 20 de maio, o último grupo de 531 combatentes se entregou. Os túneis do local, onde se escondiam dos combatentes, passaram ao controle completo das Forças Armadas russas”, disse o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.
Não está claro, porém, se o objetivo final do Kremlin seria apenas o controle do Donbass. Em uma estratégia ainda não ratificada oficialmente, um comandante russo chegou a dizer que o objetivo era dominar todo o Sul ucraniano, criando uma ligação com a Transnístria, a região separatista pró-Moscou na Moldávia — plano também confirmado pela Inteligência americana.
Por outro lado, as forças russas na Ucrânia foram repelidas nas últimas semanas da área ao redor da segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, na sua retirada mais rápida desde que foram forçadas a sair do Norte ucraniano e da área ao redor de Kiev no final de março.
Mas as tropas de Moscou ainda controlam uma grande faixa do Sul e do Leste da Ucrânia, e o fim dos combates em Mariupol significa que o território está praticamente intacto. Ainda assim, analistas militares dizem que a Rússia está usando seu poder de fogo ofensivo e pode estar ficando sem tempo para alcançar seu objetivo de capturar todo o Donbass.