No final da noite desta quarta-feira (23), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou o início de uma invasão pelo Exército de seu país no Leste da Ucrânia. “Decidi por uma operação militar”, anunciou em pronunciamento de televisão, surpreendendo muitos de seus compatriotas devido ao horário da transmissão: pouco antes das 3h da manhã no horário local.
Conforme agências internacionais de notícias, fortes explosões podiam ser ouvidas em Kiev, capital ucraniana, logo após o pronunciamento do chefe do Kremlin. Eles não conseguiram, porém, detalhar de onde viera o barulho e nem o tipo de artefato. O mesmo aconteceu na cidade de Mariupol, situada na zona portuária. Informações extraoficiais indicam que quarteis e aeroportos foram atingidos.
Em sua manifestação, Putin argumentou que as autoridades de Moscou não se sentem seguras com a situação no país vizinho. Em outro trecho de sua fala, o mandatário pediu aos militares ucranianos que “deponham armas” e prometeu retaliações – sem especificá-las – a quem interferir na operação em andamento.
Horas mais cedo, também em aparição na TV, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky se dirigiu a seu povo, reiterando o fato de que a Rússia havia dado sinal-verde à ofensiva. Também afirmou que Putin não havia respondido a um convite dele para reunião.
Dia tenso
O pronunciamento de Putin foi feito horas depois que seu governo disse ter recebido solicitação de auxílio por separatistas ucranianos pró-Rússia, a fim de “contra-atacar” o Exército de seu próprio país.
Nas últimas horas, a Ucrânia aprovou estado de emergência e anunciou ter sido alvo de novo ataque cibernético em massa. Também mobilizou reservistas de 18 a 60 anos. “Quase 200 mil soldados russos estão posicionados na fronteira com a Ucrânia”, frisou o presidente ucraniano nesta quarta em seu discurso à nação, alertando que a iminência de um conflito coloca todo o continente europeu sob risco de “uma grande guerra”.
Já nos Estados Unidos (cujo presidente Joe Biden vinha manifestando sua desconfiança de que uma invasão seria questão de tempo), um alto funcionário da Defesa ressaltou, sob anonimato: “Putin está tão pronto quanto possível para uma invasão em grande escala da Ucrânia, com quase 100% do conjunto de forças que calculamos que ele possa mobilizar para esse objetivo”.
Na Organização das Nações Unidas (ONU), o secretário-geral Antonio Guterres apelou para o bom senso por parte do líder russo: “Senhor Putin, evite que suas tropas ataquem a Ucrânia. Dê uma chance à paz, muitas pessoas já morreram”.
Estado de emergência
Também nesta quarta, o Parlamento da Ucrânia aprovou por ampla maioria o estado de emergência proposto por Volodymyr Zelensky e pelo secretário de Segurança Oleksii Danilov. “A Ucrânia precisa de garantias claras, concretas e imediatas, tanto dos países ocidentais quanto da Rússia”, alertou Zelensky à imprensa. “Estamos unidos na convicção de que o futuro da segurança europeia está sendo decidido neste momento, em nossa casa”.
Horas depois, Moscou alegou que os líderes das regiões separatistas do Leste da Ucrânia pediram “ajuda” para “combater a agressão” dos militares ucranianos. A agência estatal russa Tass havia reproduzido cartas a esse respeito na terça-feira (22) dia em que Putin foi autorizado pelo Parlamento a enviar tropas ao país-vizinho, se necessário.
A Rússia começou a evacuar seu pessoal diplomático da Ucrânia, indicou a embaixada. Por sua vez, os Estados Unidos já haviam decidido na semana passada transferir sua embaixada de Kiev para Lviv, no Oeste. A França também pediu que seus cidadãos deixassem a Ucrânia “sem demora”.
Pouco antes, o líder russo havia insistido que os interesses russos “não são negociáveis”, mas mencionou a possibilidade de um “diálogo direto e honesto com o Ocidente”. Na segunda-feira, chegou a questionar a própria legitimidade da existência da Ucrânia, acusando-a de ser um instrumento nas mãos da política de agressão anti-Rússia da Otan.
Sanções à Rússia
Em nível internacional, a União Europeia anunciou nesta quarta-feira sanções contra o ministro da Defesa e os chefes militares da Rússia, dentre outras autoridades. As principais medidas abrangem congelamento de bens em e valores em bancos, assim como a proibição da concessão de vistos aos incluídos na lista.
Já o presidente norte-americano Joe Biden confirmou sanções contra a empresa que opera o gasoduto Nord Stream II, que liga a Rússia à Alemanha. Um dia antes, já havia tornado públicas as retaliações a bancos e oligarcas russos. A reação de Moscou foi a promessa de uma resposta “forte e dolorosa à ingerência externa”.
Agora, com a invasão confirmada, as medidas podem atingir os quase 640 bilhões de dólares que a Rússia mantém em reservas cambiais e outros 183 bilhões de um fundo soberano.