Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 5 de março de 2023
O escritor e jornalista Ruy Castro tomou posse na cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras, em cerimônia com grande público no Petit Trianon. Em outubro, Ruy havia sido eleito com facilidade para a vaga, recebendo 32 dos 35 votos possíveis, ele sucede ao Acadêmico Sergio Paulo Rouanet, falecido no dia 3 de julho de 2022, aos 88 anos.
Conhecido principalmente por suas biografias de personalidades fora do comum como o jogador Mané Garrincha e o dramaturgo Nelson Rodrigues, Ruy ocupará uma cadeira que já foi de Francisco de Assis Barbosa – responsável por recuperar a obra de Lima Barreto e visto por muitos como um dos pais da biografia no país.
Como bom biógrafo, Castro fez em seu discurso a genealogia de todos os seus antecessores na cadeira número 13. Ao citar Paulo Sérgio Rouanet, seu antecessor imediato, o autor arrancou longos aplausos da plateia ao lembrar do legado da lei que levou o seu nome e que foi atacada na “pior guerra desferida por um governo contra seus artistas”.
Entre os outros acadêmicos que passaram pela cadeira 13 estão Augusto Meyer, Hélio Lobo, Sousa Bandeira, Martins Júnior, Francisco de Castro e Visconde de Taunay, o fundador. O patrono é Francisco Otaviano.
“Tudo é a palavra e a palavra é tudo”, disse o novo imortal em seu discurso. “Às vezes, ouvimos que “uma imagem vale por mil palavras.” Mas, como desafiou Millôr Fernandes, tente dizer isso sem palavras. É um privilégio estar sendo aceito nesta instituição, cuja matéria-prima é a palavra.
Nascido em Caratinga, Minas Gerais, em 1948, e apaixonado pelo Rio, Ruy se define como “um carioca nascido longe de casa”. Iniciando a sua trajetória profissional como repórter, em 1967, no Correio da Manhã, e passou por todos os grandes veículos da imprensa carioca e paulistana. A partir dos anos 1990, migrou para os livros – e, em especial, nas biografias de grandes personalidades. Em obras de sucesso, reconstituiu a vida de Nelson Rodrigues, Carmen Miranda e Mané Garrincha. Também publicou livros em que busca reconstituir a história do samba-canção, a Bossa Nova, Ipanema, o Flamengo e a década de 1920. Como romancista, lançou títulos como “Bilac vê estrelas” e “Os perigos do imperador: Um romance do Segundo Reinado”.
Em seu discurso, Ruy lembrou a diferença entre a escrita no movimentado ambiente das redações e a rotina de autor literário e biógrafo.
“A palavra, para o jornalista, não é a mesma que para os escritores. Para o jornalista, ela cabe num lenço molhado. Para os escritores, ela pode exigir o Oceano Atlântico. Mas, ao contrário dos escritores, que, se quiserem, podem se deixar levar pela palavra, o jornalista tem de subjugá-la e submetê-la aos torniquetes fundamentais de seu ofício: a objetividade, a clareza e a verdade. Foi essa prática, exercida diariamente em redações por mais de 20 anos, que levei para o outro veículo a que, de surpresa até para mim mesmo, me entreguei: o livro. E nunca mais voltei para as redações. Mas elas nunca se afastaram de mim: desde o primeiro livro, publicado em 1989, até agora, quarenta livros depois, nunca passei um dia sem estar associado, como colaborador fixo, a um jornal ou revista. É mais forte do que eu”.