De volta a presidência dos Estados Unidos a partir desta segunda-feira (20), Donald Trump prometeu comandar uma transformação sem paralelo nas entranhas da maior potência global, com consequências que ultrapassarão as fronteiras do país. A expectativa é grande sobre quais mudanças ocorrerão, mas a expectativa é que elas deverão ser implantadas a passos largos.
Economia
Wall Street está otimista com a desregulamentação de vários setores da economia, inclusive nas áreas de tecnologia (para alegria das Big Tech, influentes no novo governo), meio ambiente (que afeta o setor de energia) e bancária. Mas o potencial aumento de tarifas para produtos importados da China, Canadá e México complica a fórmula de Trump de crescer com inflação baixa.
Algumas fontes republicanas dizem que a implantação de tarifas será gradual, enquanto outras afirmam o oposto, traduzindo-as como uma das primeiras demonstrações de força de Trump no tabuleiro geopolítico. A incerteza se traduz, destacou Maurício Moura, em cenário de otimismo na Bolsa de Valores, mas de pessimismo no mercado de juros. A combinação de preços mais altos e menos receita, com a deportação de imigrantes, disse, aponta para necessidade de uma calibragem inflacionária a médio prazo.
Imigração
A deportação em massa de imigrantes sem documentação devida, promessa de campanha do presidente eleito, será, crê Mauricio Moura, o primeiro “show do Trump 2.0”, ainda que não se tenham detalhes de como se dará a operação, complexa e onerosa, estimada, só no primeiro passo, com os anúncios esperados para amanhã, de US$ 100 bilhões.
Segundo o Washington Post, Trump quer a reforma feita “na velocidade da luz”, expressão usada por Stephen Miller, conselheiro mais próximo do futuro presidente. Ela deve começar com os presos e os com dívida na Justiça, os que entraram pela fronteira nas levas mais recentes, e os 1,4 milhão já informados de que precisam sair do país. O diário calcula que 50 mil brasileiros nos EUA são “deportáveis”.
Clima
Especialistas em meio ambiente citados em reportagem recente na revista Nature preveem que Trump 2.0 será ainda mais avesso a políticas de combate às mudanças climáticas do que no primeiro governo. Além da já anunciada retirada, uma vez mais, dos EUA do Acordo de Paris, Washington deve aumentar a exploração e produção de petróleo, sintetizada no grito de guerra “perfure, bebê, perfure” presente nos comícios do republicano.
O desinteresse deve diminuir a força da COP 30, que será realizada em Belém e é um dos destaques do ano do Itamaraty. E o projeto de redução da burocracia federal, sob o comando dos bilionários Elon Musk e Vivek Ramaswamy, atingirá as agências de proteção ao meio ambiente em sintonia com a postura antirregulação do Trump 2.0.
Política externa
Mesmo com um senador de origem latino-americana na Secretaria de Estado e o gol marcado no cessar-fogo na Faixa de Gaza, trumpistas dizem que a política externa do governo terá três pontos de atenção: China, China e China. Todo o restante será secundário.
Mais do que nunca, o interesse de Washington na América Latina será em firmar parcerias para diminuir o fluxo de imigrantes para os EUA. A abordagem monotemática tende a aproximar ainda mais os governos da região de Pequim. E fontes republicanas já acenderam o sinal amarelo para o que veem como provocações desnecessárias a parceiro crucial para a nova política migratória: o México. Ameaçar tarifas de 25% para produtos do vizinho e mudar o nome do Golfo do México são contraproducentes, avaliam, reservadamente.
Saúde
A provável confirmação de Robert Kennedy Jr. para comandar a saúde pública americana deixou cientistas e profissionais do setor apavorados. Celebrizado por sua cruzada antivacina durante a pandemia de Covid-19, o ex-democrata divulga mentiras como a de que a dose contra o sarampo causa autismo.
Em entrevista à rádio pública NPR, ele contou que Trump lhe deu apenas três instruções — acabar com a corrupção nas agências de Saúde, “retornar à evidência científica” e “encerrar a epidemia de opioides”. A segunda tarefa aumentou a desconfiança do setor, que viu senha para uma tempestade de informações falsas sobre a vacinação infantil.
Por outro lado, Kennedy disse que enfrentará a indústria farmacêutica, quebrar patentes, diminuir margens de lucro e reduzir a permissão de aditivos em alimentos consumidos pelos americanos.