Em nutrição e saúde, as questões relacionadas às mulheres estão ganhando espaço há algum tempo. Podemos ver discussões nas redes sociais, onde surgirem uma infinidade de contas dedicadas exclusivamente a tratar de temas relacionados a saúde feminina, mas especificamente a menstruação. O assunto tem ganhado mais visibilidade em livros, podcasts e presença na mídia, além de treinamentos específicos dedicados aos profissionais da área.
Tudo o que torna visíveis questões que só acontecem conosco é uma boa notícia. Esse interesse também tem um tema importante envolvido: o período, os desequilíbrios hormonais que o corpo passa e sua relação com os hábitos. Estamos passando a não ver mais esses temas como tabus, algo para se envergonhar ou esconder, e sim, que precisam de atenção e um cuidado especial.
Não à toa, o dia 28 de maio foi intitulado como o Dia Internacional da Higiene Menstrual por uma ONG alemã chamada WASH United. A data foi criada com a missão de gerar conhecimento e mostrar a importância da menstruação na vida de meninas e mulheres, assim como quebrar silêncios sobre um ciclo tão comum, natural e importante na vida feminina.
Dizem que neste momento o tema “mulher” é um nicho, que vende e que devemos aproveitá-lo. Um nicho que carrega 50% da população. Nicho abençoado esse, normal que a gente esteja louco para fazer parte dele.
A verdade é que os problemas das “mulheres” se tornaram visíveis. Temas como endometriose e sua dificuldade no diagnóstico e tratamento, síndrome dos ovários policísticos, adenomiose ou dismenorreia ganharam presença e são muito mais comentados. Eles chegaram até a política e estão considerando a possibilidade de legislar uma licença médica específica para mulheres que tem ciclos menstruais dolorosos.
Uma outra questão que deve ser considerada também é melhorar o diagnóstico e o tratamento de mulheres que sofrem de dores incapacitantes vários dias por mês e não considerar como algo usual, que se resolve na maioria dos casos com um “tomar um pouco de ibuprofeno” ou prescrever a pílula. E dedicar um orçamento à pesquisa, mas a abordagem geral, incluindo a perspectiva de gênero, já é exigente.
Como em toda questão de saúde que alcança visibilidade, nesta também existem tentativas de ganhar dinheiro a todo custo. Dietas milagrosas, suplementos de cura, gurus que vão acabar com seu problema… e este se presta a tudo isso.
A mensagem deve ser clara: não há alimentos ou dietas que, consumidos nos dias em que a dor é sentida, a aliviem de maneira notável. De qualquer forma, são os padrões alimentares mantidos ao longo do tempo que alcançam essas possíveis melhorias, e não o consumo pontual.
Por isso, a infinidade de publicações que aconselham o consumo de uma série de alimentos durante o período para diminuir a dor ou o desconforto nada mais são do que conteúdos enganosos.
Sabemos sim que uma alimentação saudável (rica em frutas e vegetais, com gorduras saudáveis e poucos alimentos ultraprocessados), um bom descanso, uma vida ativa e não fumar ou beber álcool são hábitos que estão relacionados a menos dores menstruais. Levar uma vida saudável geralmente está relacionado a menos risco, ou menos impacto de outros problemas de saúde, então não podemos chamar isso de conselho para dor menstrual, mas conselho para uma vida saudável em qualquer sexo e idade que terá um impacto positivo na saúde geral da pessoa.
Padrões alimentares
Se começarmos a revisar a literatura científica em relação à dieta e à dismenorreia (assim são chamados os períodos dolorosos) vemos que a maioria dos estudos indicam que as pesquisas sobre o assunto são escassas, variáveis e com resultados dispersos e inconclusivos. O que ainda chama a atenção quando falamos de um problema que atinge tantas pessoas, até que lembramos do patriarcado e a surpresa passa.
No entanto, vamos mencionar a dieta mediterrânea, especialmente porque publicamos em Nutrients um estudo nacional sobre o assunto que analisa a adesão a alimentos típicos do sul da Espanha entre 311 estudantes de cursos de saúde na cidade de Huelva e sua relação com a dor e outros aspectos do período. Aqueles que tiveram menor adesão ao padrão mediterrâneo apresentaram ciclos mais longos, enquanto o consumo de mais de duas porções de frutas por dia e azeite regular foi associado a menos dismenorreia.
Surpreende o resultado de que mulheres que comem mais de uma porção de leguminosas por semana apresentam mais dores menstruais, os mesmos autores apontam outros estudos em que ocorre o contrário, mas não oferecem explicação a esse respeito. Talvez tenha sido uma boa ideia investigar como se comiam estas leguminosas, que em Espanha são muitas vezes acompanhadas de chouriço e outras carnes vermelhas e processadas. Principalmente quando um estudo anterior dos mesmos pesquisadores indica que o risco de dismenorreia é maior nas estudantes que comem carne do que nas que não comem, considerando esse consumo como fator de risco.
Falando em carne, é obrigatório mencionar um ensaio clínico da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, que comparou em um grupo de 33 mulheres parâmetros de dois ciclos menstruais seguindo uma dieta vegetariana com baixo teor de gordura e dois outros ciclos tomando um suplemento de placebo e seguindo sua dieta habitual. Durante a fase da dieta, a dor menstrual diminuiu em duração e intensidade e aumentou a concentração sanguínea de SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais), que ajuda a manter o equilíbrio hormonal do corpo.