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Por Redação O Sul | 5 de julho de 2020
A pandemia de covid-19 deu um novo impulso aos esforços da China para internacionalizar sua medicina tradicional. Ao mesmo tempo em que várias equipes científicas ao redor do planeta tentam desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus, Pequim vem promovendo o uso da medicina tradicional chinesa para tratar pessoas infectadas.
Um documento publicado recentemente pelo governo chinês diz que 92% dos casos de covid-19 no país haviam sido tratados com esse tipo de medicina.
A medicina tradicional chinesa é uma das práticas médicas mais antigas do mundo e inclui uma ampla gama de tratamentos, de misturas de ervas a acupuntura e Tai Chi.
É muito popular na China, sem distinções geracionais, embora seu uso seja ocasionalmente objeto de intenso debate na Internet.
Especialistas dizem que a China está tentando expandir a atratividade da sua medicina tradicional dentro e fora de suas fronteiras. No entanto, muitos profissionais treinados na medicina ocidental são céticos quanto à sua utilidade.
A Comissão Nacional de Saúde da China possui um capítulo especial sobre a medicina tradicional em suas recomendações para o tratamento do coronavírus, e a imprensa oficial tem destacado seu suposto papel na resposta a epidemias anteriores, como a de Sars, em 2003.
Seis remédios da medicina tradicional chinesa foram anunciados como tratamento para a covid-19. Os dois mais importantes são Lianhua Qingwen, que contém 13 ervas como Forsythia suspensa e raiz de ouro (Rhodiola rosea), e Jinhua Qinggan, que foi desenvolvido durante o surto de H1N1 em 2009 e é formado por 12 componentes, incluindo hortelã, alcaçuz e madressilva.
Os defensores da medicina tradicional chinesa argumentam que seu uso não tem consequências negativas, mas os especialistas dizem que é necessário um exame científico rigoroso antes que esses tipos de remédios possam ser considerados seguros.
O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos afirmou que, embora a medicina tradicional chinesa possa ajudar a aliviar os sintomas da covid-19, sua eficácia geral contra o coronavírus não está comprovada.
“Não há evidências sólidas para a medicina tradicional chinesa e, portanto, seu uso não apenas não é justificado, mas também perigoso”, disse recentemente Edzard Ernst, pesquisador de medicinas alternativas, à revista Nature.
Apesar disso, a medicina tradicional chinesa continua a crescer no seu país de origem, e há uma demanda crescente por ela no mercado internacional.
O governo chinês estimou no ano passado que a indústria da medicina tradicional poderia chegar a US$ 420 bilhões (R$ 2,2 trilhões) até o final de 2020.
O presidente chinês, Xi Jinping, é considerado um “verdadeiro fã” dessa prática antiga, que ele chamou de “tesouro da civilização chinesa”.
Yanzhong Huang, pesquisador sênior de saúde pública do Council on Foreign Relations, um centro de estudos em Washington, nos Estados Unidos, observa que “questões de eficiência e segurança afetam o setor da medicina tradicional chinesa e que a maioria dos chineses ainda prefere a medicina moderna”.
O Instituto Nacional Chinês para Controle de Alimentos e Medicamentos encontrou toxinas em algumas amostras de produtos usados na medicina tradicional no ano passado.
Apesar dos esforços persistentes de Pequim para internacionalizar a medicinal tradicional chinesa, muitas pessoas fora da China ainda não a conhecem.
Os críticos dizem que a China está usando a pandemia como forma de promovê-la no exterior, algo que a imprensa oficial nega.
No entanto, a China tem enviado suprimentos e especialistas em medicina tradicional chinesa, junto com medicamentos e equipamentos convencionais, para a África, Ásia Central e Europa.
“Estamos prontos para compartilhar a ‘experiência chinesa’ e a ‘solução chinesa’ para o tratamento da covid-19 e informar mais países, entender e usar a medicina chinesa”, disse Yu Yanhong, uma das principais pessoas responsáveis pela Administração Nacional de Medicina Tradicional Chinesa.
Huang acredita que a promoção da medicina tradicional chinesa no exterior equivale a impulsionar o “soft power” da China, ou seja, a capacidade de persuasão e atração da China. “A narrativa oficial que apresenta a medicina tradicional chinesa como eficaz contra a covid-19 também serve para promover a superioridade da abordagem anticovid-19 da China, numa época em que os esforços ocidentais parecem ser ineficazes em conter a propagação do vírus”, ele apontou. As informações são da BBC News.