Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de julho de 2019
As refeições dos astronautas da Nasa (agência espacial norte-americana) anteriores ao voo nas missões Apollo (1961-1972) eram preparadas para que eles ingerissem as calorias e o que os médicos chamam de “baixo resíduo”. Desde Alan Shepard, em 1961, todos os astronautas da Nasa receberam um café da manhã meticulosamente.
Em outras palavras, são dizer refeições com baixo teor de fibras, para que os astronautas não precisassem do banheiro por um bom tempo após a decolagem.
As primeiras missões também limitaram a ingestão de café antes do lançamento, devido às suas propriedades diuréticas. Pilotando o Mercury no primeiro voo de um americano ao espaço, Shepard, por exemplo, sofreu com atrasos na contagem regressiva do lançamento. É que, como a duração de voo planejada era de 15 minutos, os médicos avaliaram que o astronauta conseguiria evitar urinar até voltar à Terra.
“Colocaram Alan Shepard no foguete sem uma maneira de dar vazão (à urina)”, lembra o repórter Jay Barbree, que comentou na época sobre a missão – a primeira vez que um astronauta americano foi enviado ao espaço – no canal televisivo NBC. “Depois de duas horas, ele começou a reclamar e desesperadamente pediu permissão para molhar sua vestimenta – o que finalmente foi concedido.”
Depois, astronautas da missão Apollo passaram a usar dispositivos pessoais de coleta de urina, um pouco parecidos com camisinhas, conectados a um sistema de descarte que ejetava os resíduos a partir da lateral da espaçonave.
Resíduos sólidos por sua vez envolviam o uso de sacos de plástico, e a maioria dos astronautas tentava evitar ir ao banheiro pelo maior tempo possível.
O primeiro a “não aguentar” em uma missão Apollo foi Walt Cunningham, astronauta da Apollo 7, em 1967.
“Foi bem difícil fazer tudo funcionar direito”, ele me contou uma vez. “Você até consegue coletar tudo, mas depois disso você gastava um bom tempo misturando pílulas (germicidas) com o que estava dentro do saco – não era um trabalho prazeiroso.”
As “pílulas” citadas por Cunningham se referem a um germicida que era misturado aos resíduos fecais para evitar que bactérias presentes nestes produzissem gás, que poderia romper os sacos.
Os sacos plásticos fecais tinham bordas adesivas para ajudar na coleta da evacuação. Os papéis sanitários também eram introduzidos no mesmo saco, junto com o germicida. O saco depois era colocado em um compartimento especial para dejetos.
Alimentos em tubos
O primeiro americano a comer uma refeição no espaço foi John Glenn. Durante seu voo de cinco horas na missão Mercury-Atlas 6, em fevereiro de 1962 (o primeiro voo tripulado na órbita terrestre da Nasa), ele testou um tubo – semelhante a um tubo de pasta de dente – com purê de maçã, provando que as pessoas podiam engolir e digerir os alimentos na ausência de gravidade.
Nas missões Gemini, de tripulações de duas pessoas na década de 1960, os astronautas recebiam 2,5 mil calorias por dia. Elas vinham em embalagens plásticas de alimentos liofilizados produzidos pela empresa Whirlpool Corporation. A liofilização envolvia cozinhar os alimentos, congelá-los rapidamente e, em seguida, aquecendo-os lentamente em uma câmara de vácuo para remover os cristais de gelo formados pelo processo de congelamento.
Os astronautas injetavam água através de um bico para reidratar os alimentos e consumiam a espécie de pasta que resultava do processo. As refeições eram mais saborosas do que a comida em tubo provada pelas missões Mercury, e incluíam delícias como carne e molho, mas a água era fria – o que tornava os pratos frequentemente menos apetitosos.
Contrabando de comida para a nave
Na primeira missão Gemini, a Gemini 3 em 1965, John Young criou um pequeno escândalo – e a única mancha em sua carreira exemplar de astronauta – ao contrabandear um sanduíche de carne enlatada a bordo. O que começou como uma piada ameaçou causar um problema sério para a espaçonave, pois havia o temor de que as migalhas interferissem em seus circuitos.
Durante as missões Apollo, quando os astronautas podiam fazer alguns exercícios limitados na cápsula e mover-se na Lua, os nutricionistas da Nasa aumentaram a ingestão diária de calorias para 2,8 mil.
Não só os alimentos eram mais saborosos, como já havia água quente disponível na nave. As refeições não precisavam mais ser sugadas por um canudo, os astronautas podiam até comer algumas delas com uma colher.
As dispensas das espaçonaves ficaram cada vez mais repletas de lanches, apesar das porções serem contadas. Havia, por exemplo, bolachas de queijo, bolos de chocolate e abacaxi e até pacotes de chiclete.
Um jantar típico na Apollo 17 consistia em um prato principal de frango e arroz, seguido por pudim de caramelo e biscoitos.
Para beber, havia café instantâneo, chá, chocolate em pó e limonada.