“Precisamos falar de dinheiro”. Muitas vezes, os casais necessitam de uma conversa sobre finanças, mas não conseguem sequer pronunciar a frase anterior. Alguns até tocam no assunto, mas acabam brigando. Não se pode negar que, principalmente em tempos de crise econômica, seja fundamental quebrar o tabu sobre esse tema que causa tanta discussão. Psicólogos e especialistas na área de economia são unânimes e avisam: tornar o assunto um tema comum na vida a dois é o melhor caminho para que nada na relação saia dos trilhos.
Casado há 20 anos com a dermatologista Bruna Bravo, o cirurgião plástico Leonardo Bravo conta que nunca se meteu nos gastos pessoais da mulher, principalmente no que diz respeitos a itens como roupas, sapatos e bolsas.
“Só me assusto! Não tenho muita ideia dos preços desses itens, mesmo porque quem compra tudo isso pra mim é ela. Outro dia, a Bruna pediu que eu buscasse um vestido numa loja e, quando paguei, levei um susto mesmo.”
Leonardo diz que a definição das prioridades é a melhor receita para evitar qualquer desentendimento quando o assunto é dinheiro:
“Conversamos muito sobre os gastos mensais. Afinal, a criação de três filhos requer um grande planejamento. Além disso, definimos juntos nossos investimentos. Tanto os financeiros quanto os de lazer da família. O diálogo transparente é imprescindível para um casal.”
Além de terem três filhos juntos — de 11, 9 e 4 anos —, os médicos dividem a mesma clínica desde 2014. Eles abriram um consultório em Botafogo, onde moram, para ficar mais perto das crianças. No entanto, desde o ano passado, decidiram ocupar o andar inteiro de um prédio no Leblon. Bruna adverte que trabalhar junto com o marido exige algumas regras.
“Sabemos que, muitas vezes, é inevitável, mas o ideal é não levar trabalho para casa. Falar de dinheiro no café da manhã acaba com o romantismo”, diz a dermatologista.
A juíza de paz Débora De Andrea Mestriner, 33, e o marido, o tabelião Luiz Fernando Mestriner, 40, também trabalham juntos. Casados há oito anos, eles tinham no início uma única conta bancária. De três anos para cá, Débora administra sozinha todo o dinheiro que recebe. Ela explica que, por uma questão normativa, foi obrigada a abrir uma conta para receber, no cartório do marido, o salário pelo trabalho. A mudança acabou melhorando a relação dos dois.
“Nunca fui consumista e, por isso, não tivemos grande desentendimentos. Mas sabia que, se em um dia de surto, comprasse cinco pares de sapatos, teria que dar satisfações sobre esse gasto. A partir do momento em que abri uma conta separada, consegui ter mais autonomia sobre o meu dinheiro. Sempre fui muito moderada em relação ao consumo, mas gosto de investir em bolsas de grife, que compro nas nossas viagens de férias”, diz Débora, mãe de dois meninos, de 1 ano e 4.
Ela conta que o casal tem ainda uma conta conjunta e que os gastos domiciliares cabem a Luiz.
A psicóloga Monique Penna, especializada em terapia cognitiva comportamental, diz que, de tempos em tempos, o casal precisa reavaliar as finanças para tentar corrigir problemas, antes que eles venham a se tornar motivo de brigas acirradas. Transparência é fundamental, ou seja: nada de esconder compras, investimentos ou dívidas.
“Pensar como casal exige diálogo e paciência, mas só desta maneira é possível minimizar muitos problemas no futuro. O assunto dinheiro deve ser habitual. Vale ressaltar que ocultar uma dívida do seu parceiro, por exemplo, pode gerar desavenças e muito estresse, assim como esconder aquisições”, explica a psicóloga.
Presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros, Reinaldo Domingos concorda que o diálogo e transparência são essenciais numa relação amorosa. Ele conta que é comum casais desconhecerem o valor do salário do companheiro:
“Isso é bastante preocupante, porque demonstra uma grande possibilidade de problemas relacionados ao dinheiro no futuro. A primeira dica em relação ao tratamento do dinheiro do casal é muito diálogo.”
Reinaldo afirma que a saída é construir um orçamento familiar baseado nos sonhos e nos objetivos da família. E acrescenta que é importante ocorrer o quanto antes a definição de regras financeiras, como quem paga o quê.