“Muita gente acha que o Google é só uma caixa de busca e o Facebook é só para saber dos meus amigos. O que não percebem é que há equipes inteiras de engenheiros cujo trabalho é usar sua psicologia contra você”. Este é um trecho da fala de Tristan Harris, ex-designer ético do Google, no documentário “O Dilema das Redes”. O filme apresenta depoimentos de ex-funcionários de algumas das principais redes sociais e potencializou o debate sobre seus efeitos nocivos. Entre o uso de dados para manipulação e a maior circulação de desinformação, um dos principais impactos é referente à saúde mental.
O psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da USP, explica que as empresas do setor usam o que é chamado de ciência da persuasão, técnicas psicológicas com o objetivo de prolongar a interação dos usuários. Ele afirma já existirem pesquisas apontando que esses processos são responsáveis por efeitos danosos, como o aumento da automutilação entre meninas adolescentes que usam as redes sociais, por exemplo.
“A perspectiva da infelicidade e insatisfação aumenta de forma exponencial. Em outra pesquisa feita no ano passado com adolescentes no Reino Unido, metade deles disse que se sentiriam mais felizes se as redes sociais nunca tivessem sido inventadas”, menciona Nabuco. “Da forma como as pessoas interagem com as redes hoje, eu posso assegurar que os resultados a médio e longo prazo também não serão bons.”
Se o uso excessivo dessas mídias já era uma preocupação, se tornou ainda maior durante a pandemia da Covid-19. Com o isolamento social, muitas atividades de trabalho e escolares migraram para o meio digital e as redes se tornaram ainda mais importantes para socialização. Ao sentir que estavam passando tempo demais nas plataformas, alguns jovens têm repensado seu uso e até mesmo optado por desativar aplicativos.
Esse foi o caso da professora de inglês Kally Oliveira, de 24 anos. Acostumada a uma rotina de trabalho e social ativa, ela sentiu que estava “sendo sugada” pelas redes durante o isolamento. Em julho, decidiu excluir o Instagram e o Twitter de seu celular.
“Muita gente ficou nostálgica, postando fotos revivendo o passado, e ser bombardeada por uma notícia pior que a outra não estava funcionando. Vi que no final do dia eram duas fontes de tristeza, deletei e fui tentar usar esse tempo para algo que me fizesse bem”, conta a professora.
Oliveira ficou sem usar os aplicativos por 2 meses, nos quais criou uma rotina de estudos para intercalar com o trabalho e se sentiu muito mais produtiva. Depois, decidiu instalá-los novamente para se reconectar com os amigos.
“Sabia que agora conseguiria ter um acesso mais saudável. Silenciei e exclui muita gente das redes e coloquei um aviso no celular para gastar menos tempo nos aplicativos”, conta.
Veja abaixo dicas para um uso mais saudável das redes sociais:
Desabilite as notificações
É muito difícil ver ou ouvir o som de uma nova notificação e não entrar no aplicativo para ver do que se trata. Desabilite as notificações e entre nas redes sociais apenas quando escolher.
Organize os aplicativos
Deixe na tela principal do celular apenas os aplicativos vitais no seu dia a dia e passe os outros para a tela secundária, para que não chamem sua atenção o tempo todo.
Não leve o celular para o quarto
Colocar o celular embaixo do travesseiro ou do lado da cama na hora de dormir não é uma boa ideia. Os sons e a luminosidade do aparelho podem atrapalhar o sono saudável. Também não é aconselhável usá-lo durante as refeições.
Não acredite em tudo que é postado
As redes sociais mostram uma realidade editada, que não necessariamente corresponde à vida off-line. Tenha consciência disso e não compare sua vida com a de outras pessoas com base no que vê nos posts.
Selecione quem seguir
É importante filtrar o tipo de conteúdo que você escolhe seguir nas redes. Acompanhar apenas pessoas com características que se encaixam dentro de um padrão inalcançável de beleza, por exemplo, pode trazer impactos negativos para a autoestima.
Use com consciência
As redes sociais devem ser utilizadas como outras atividades do dia a dia, sem ocupar todo seu tempo. Se você já fez tudo o que precisa e na hora de se desconectar não consegue, isso pode trazer consequências negativas.
Busque educação digital
Existem diversas cartilhas com informações para fazer um melhor uso dos recursos tecnológicos. O Instituto Delete tem materiais sobre o tema e o próprio Instagram criou o guia #DigitalSemPressão, em parceria com a ONG SaferNet, no qual reúnem dicas para uma experiência mais equilibrada na rede.
Privilegie a vida off-line
Busque outras atividades de lazer no seu dia a dia que não envolvam as redes sociais.