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Saiba como os espiões de Vladimir Putin estão tramando um caos global

A Rússia está levando a cabo um plano revolucionário de sabotagem, incêndio criminoso e assassinato. (Foto: Kremlin/Fotos Públicas)

Em 14 de outubro, Bruno Kahl, chefe de espionagem da Alemanha, disse que as medidas secretas da Rússia atingiram um “nível nunca visto antes”. Thomas Haldenwang, chefe dos serviços de inteligência domésticos da Alemanha, disse aos legisladores que um ato de sabotagem quase causou a queda de um avião no início deste ano, alertando que o “comportamento agressivo” de espiões russos estava colocando vidas em risco.

A guerra da Rússia na Ucrânia foi acompanhada por um crescendo de agressão, subversão e intromissão em outros lugares. Em particular, a sabotagem russa na Europa aumentou dramaticamente. “Vemos atos de sabotagem acontecendo na Europa agora”, disse o vice-almirante Nils Andreas Stensones, chefe do Serviço de Inteligência Norueguês, em setembro.

Os homens do Kremlin espremeram o Ocidente até expulsá-lo de vários estados africanos. Seus hackers, disseram os serviços de segurança da Polônia, tentaram paralisar o país nas esferas política, militar e econômica. Os propagandistas da Rússia espalharam desinformação pelo mundo. Suas forças armadas querem colocar uma arma nuclear em órbita. A política externa russa há muito recorreu ao caos. Agora, parece buscar apenas isso.

Em abril, a Alemanha prendeu dois cidadãos germano-russos suspeitos de estarem planejando ataques a instalações militares americanas e outros alvos em nome do GRU. No mesmo mês, a Polônia prendeu um homem que se preparava para passar ao GRU informações a respeito do aeroporto de Rzeszow, um centro de armas para a Ucrânia, e o Reino Unido acusou vários homens por envolvimento em um ataque incendiário a uma empresa de logística de propriedade ucraniana em Londres. Os homens foram acusados de auxiliar o Grupo Wagner, um grupo mercenário agora sob o controle do GRU.

Em junho, a França prendeu um russo-ucraniano que foi ferido na tentativa de fazer uma bomba em seu quarto de hotel em Paris. Em julho, descobriu-se que a Rússia havia planejado matar Armin Papperger, o chefe da Rheinmetall, a maior empresa de armas da Alemanha. Em 9 de setembro, o tráfego aéreo no aeroporto de Arlanda, em Estocolmo, foi fechado por mais de duas horas após drones serem avistados sobre as pistas. Autoridades americanas alertam que embarcações russas estão fazendo reconhecimento de cabos submarinos.

Mesmo onde não recorreu à violência, a Rússia tentou agitar as coisas de outras maneiras. Os estados bálticos prenderam várias pessoas pelo que dizem ser provocações patrocinadas pela Rússia. Autoridades de inteligência francesas alegam que a Rússia foi responsável pelo aparecimento de caixões cobertos com a bandeira francesa e com a mensagem “Soldados franceses da Ucrânia” deixados na Torre Eiffel em Paris em junho. Muitas dessas ações visam atiçar a oposição à ajuda à Ucrânia.

Grande parte da atividade da Rússia tem sido virtual. Em abril, parece que hackers ligados ao GRU manipularam sistemas de controle de distribuição de água nos Estados Unidos e na Polônia. Em setembro, EUA, Reino Unido, Ucrânia e vários outros países publicaram detalhes de ataques cibernéticos realizados pela Unidade 29155 do GRU, um grupo conhecido anteriormente por assassinatos na Europa, incluindo um esforço fracassado para envenenar Sergei Skripal, um ex-oficial de inteligência russo.

Tudo em todo lugar

“O que Putin está tentando fazer é nos atingir em todos os lugares”, argumenta Fiona Hill, que anteriormente atuou como a principal autoridade em Rússia no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

A intromissão da Rússia nos EUA assume uma forma muito diferente. Em maio, Avril Haines, diretora de inteligência nacional dos Estados Unidos, chamou a Rússia de “a ameaça estrangeira mais ativa às nossas eleições”, acima da China ou do Irã. Não se tratava apenas de tentar moldar a política dos Estados Unidos a respeito da Ucrânia.

Em julho, as agências de inteligência americanas disseram que estavam “começando a ver a Rússia mirar em grupos demográficos específicos de eleitores, promover narrativas divisivas e difamar políticos específicos”.

Esses esforços são geralmente grosseiros e ineficazes. Mas são prolíficos, intensos e, às vezes, inovadores. Em setembro, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou dois funcionários da RT, um meio de comunicação controlado pelo Kremlin que regularmente vomita frases feitas russas e escabrosas teorias da conspiração, de pagar US$ 10 milhões a uma empresa de mídia não identificada no Tennessee. A empresa, supostamente a Tenet Media, postou quase 2.000 vídeos no TikTok, Instagram, X e YouTube. O departamento também apreendeu 32 domínios de internet controlados pelo Kremlin, projetados para imitar sites de notícias legítimos.

Os propagandistas russos também estão experimentando com a tecnologia. A CopyCop, uma rede de sites, pegou artigos de notícias legítimos e usou o ChatGPT, um modelo de IA, para reescrevê-los.

As campanhas de desinformação russas não são novidade, reconhece Sergey Radchenko, um historiador da política externa russa. Nem guerras por procuração ou assassinatos são uma novidade. As tropas soviéticas já estavam lutando no Iêmen, disfarçadas de egípcias, no início dos anos 1960, ele observa. Os predecessores e sucessores da KGB mataram muitas pessoas no exterior, de Leon Trotsky ao ex-espião Alexander Litvinenko.

A parte genuinamente nova, diz Radchenko, “é que, enquanto antes as operações especiais apoiavam a política externa, hoje as operações especiais são a política externa”.

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