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Saiba como se proteger contra as fake news no mercado financeiro

O deputado Orlando Silva avalia que não há como manter as redes sem regulação. (Foto: Reprodução)

Na reta final das eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adotou uma postura mais rigorosa para combater a circulação de fake news. A medida é uma forma de evitar que a decisão do voto seja pautada em informações inverídicas. No entanto, o prejuízo da circulação de informações falsas não se restringe apenas ao campo político. No mercado financeiro, o estrago também afeta o bolso do investidor.

As notícias falsas sobre oportunidades “imperdíveis” de investimentos geralmente surgem como uma mensagem chamativa ao informar um retorno acima da média do mercado em pouco tempo. A estratégia é uma forma de atrair ainda mais a atenção do investidor para que ele seja convencido a aplicar os seus recursos em um determinado ativo. O problema é que, por trás da promessa de alto retorno rápido, há pessoas com a intenção de roubar o seu dinheiro.

“Normalmente, são casos ligados a pessoas que querem vender serviços que prometem retornos fora da realidade. Alguns profissionais do mercado até conseguem esses ganhos extraordinários, mas isso não ocorrem com frequência porque é difícil retornos tão altos. O normal é ter retornos medianos”, afirma Mário Goulart, analista CNPI.

Mas há uma lógica por trás do poder de persuasão dessas informações falsas. Como há o desejo das pessoas de ter altas rentabilidades em um curto período de tempo, as fakes news utilizam exatamente esse desejo para construir uma narrativa que possa oferecer a resposta com a promessa de lucro que o investidor gostaria de ter.

“Na psicologia econômica, chamamos isso de viés de confirmação. Ocorre quando um indivíduo usa informações para apoiar suas próprias ideias, e desconsidera as que não apoiam suas crenças”, diz Ana Paula Hornos, psicóloga e educadora financeira.

Com o uso massivo das redes sociais, a propagação das informações falsas torna-se ainda mais acelerada devido ao filtro utilizado por essas ferramentas para entregar aquilo que os usuários desejam consumir. “O algoritmo identifica suas crenças e filtra conteúdos que vão te mostra somente aquilo que a pessoa acredita (e que pode estar errado!)”, diz Hornos.

Por esse motivo, a orientação dos especialistas é sempre checar as informações antes de alocar recursos nestas falsas promessas. Os sites oficiais de órgãos públicos, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central (BC), podem ser um caminho interessante para analisar a credibilidade da informação. “Busque o CNPJ da empresa (que oferece ganhos extraordinários) ou notificações no site Reclame Aqui”, diz Márcio Berger, CEO da Peak Invest.

Outra prática adotada pela Peak Invest foi informar a sua base de clientes sobre a disseminação falsa de informações com o objetivo de aplicar golpes financeiros envolvendo o nome da empresa. De acordo com Berger, mensagens falsas já circularam para oferta de empréstimos com a cobrança de taxas para a realização de análise de crédito. “Estamos colocando mensagens em nossos meios de comunicação para informar que somos uma instituição regulada (pelo Banco Central). Informamos também que não cobramos taxas antecipadas para a concessão do empréstimo e nem para fazer análise de crédito. E alertamos que os nosso retornos podem ser afetados pela inadimplência”, afirma.

O problema é que há situações em que o investidor não consegue se blindar 100%. São aquelas em que as informações falsas são produzidas pelas próprias empresas com o foco de manipular os preços negociados na bolsa. Apesar de se tratar de casos pontuais, o efeito dessas fake news é o suficiente para causar um alto prejuízo financeiro para um número considerável de investidores.

Um exemplo é o caso envolvendo o IRB (IRBR3), acusado de circular uma informação em fevereiro de 2020 entre os acionistas da companhia dizendo que a Berkshire Hathaway teria triplicado a participação na resseguradora. Na época, o boato foi o suficiente para influenciar na cotação das ações que chegaram a ter ganhos acima dos 6%. Em março do mesmo ano, a informação foi desmentida. A Berkshire afirmou que nunca havia sido acionista do IRB e que não tinha intenção de ser.

Na avaliação de Goulart, é mais difícil para o investidor pessoa física se “blindar” devido à complexidade do caso. Por outro lado, o mercado financeiro tem aprimorado os mecanismos de proteção e critérios de transparência para as companhias de capital aberto, com o objetivo de evitar as fraudes financeiras.

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