Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de dezembro de 2021
À medida que se espalhava a notícia do lançamento da vacina contra a covid-19 pela Pfizer/BioNTech, Todd Zion bem que tentou, mas não conseguiu conter o desânimo. Era novembro de 2020 e, pela primeira vez, chegavam notícias promissoras na luta contra a doença causada pelo novo coronavírus.
Não apenas a Pfizer-BioNTech, mas a Moderna e, posteriormente, a Oxford-AstraZeneca haviam divulgado resultados de ensaios clínicos de fase 3 para suas vacinas com eficácia que excedeu as expectativas dos cientistas mais otimistas.
O que se seguiu foi uma avalanche de acordos políticos e diplomacia de vacinas. Os líderes mundiais foram rápidos e encomendaram milhões de unidades dos novos imunizantes.
Se por um lado, Zion, empresário e CEO de uma pequena startup chamada Akston Biosciences, ficava pessoalmente aliviado pela possibilidade de uma solução para a pandemia global, por outro, enfrentava a tarefa ingrata de tentar convencer seus funcionários de que seu trabalho árduo não havia sido em vão.
Nove meses antes, a Akston Biosciences havia se juntado à corrida global por vacinas como uma das mais de 40 equipes que competiam para desenvolver a primeira vacina contra a covid-19 no mundo.
Agora, como dezenas de outras empresas, elas foram completamente derrotadas pela velocidade e eficiência das tecnologias de suas rivais maiores, que concluíram os testes clínicos enquanto seus próprios produtos ainda estavam em desenvolvimento.
Mas Sion ainda sentia que a corrida estava longe de terminar. “Essas vacinas ajudaram tremendamente (na luta contra a covid-19), mas se você é um inovador, sabe que os produtos que vêm em primeiro lugar tendem a ter muitos problemas”, diz ele.
“Então, por esse motivo, continuei motivado. Mas para uma pequena empresa foi um desafio continuar desenvolvendo nossa vacina enquanto a maior parte do mundo pensava que tudo estava resolvido.”
Doze meses depois, a Akston Biosciences está entre uma infinidade de empresas que espera levar ao público uma segunda geração de vacinas contra a covid-19 no próximo um ano e meio.
São inúmeros os desafios, sendo um deles a escassez de matérias-primas vitais para a fabricação dos imunizantes.
Agora, após mais de dois anos de pandemia, companhias como a de Sion devem convencer os reguladores de que novos produtos ainda são necessários.
Pesa a favor deles a variedade de inovações.
A empresa francesa de biotecnologia Valneva, por exemplo, desenvolveu uma vacina que contém um adjuvante químico (medicamento que reforça a ação de outro) para estimular a resposta imunológica. Essa característica, em particular, tem como objetivo provocar uma melhor resposta imunológica nos idosos.
Outra empresa, a Vaxart, da Califórnia, está desenvolvendo uma vacina em forma de pílula que pode resolver o problema da fobia de agulhas.
O surgimento de novas versões mutantes do vírus que causa a covid-19, como as variantes delta e ômicron, cria um precedente potencial para o desenvolvimento de diferentes tecnologias que fornecem uma resposta mais forte do sistema imunológico.
“Temos alguns dados de que a resposta do sistema imunológico à infecção natural, mas também à vacinação, se reduzem com o tempo”, diz Andrew Ustianowski, líder clínico do Programa de Investigação de Vacinas para a Covid do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido.
“Podemos ver as respostas dos anticorpos e, até certo ponto, as respostas das células T (células de defesa) diminuindo ao longo do tempo. Portanto, uma das esperanças das vacinas de segunda geração é que elas possam fornecer proteção por um período mais longo do que as primeiras vacinas.”
Os rígidos requisitos de refrigeração para muitas das vacinas de primeira geração também representam desafios significativos para alcançar muitas das comunidades mais pobres do mundo. Atualmente, por exemplo, apenas 28% da população da Índia está totalmente vacinada.
A Akston Biosciences recebeu recentemente a aprovação de órgãos reguladores para conduzir um ensaio clínico de Fase 2/3, o segundo estágio dos ensaios em humanos, na Índia no ano que vem.
A natureza de sua vacina, que pode ser mantida em temperatura ambiente por pelo menos seis meses, deve ajudar a alcançar regiões com infraestrutura limitada para armazenar e transportar imunizantes menos estáveis.
Embora sua vacina talvez só esteja amplamente disponível depois de 2023, Zion está confiante de que ela permanecerá altamente relevante na luta contra covid-19.
“Acabamos de assinar um contrato de licenciamento e desenvolvimento de fabricação com uma empresa indiana”, diz.
“Eles têm cerca de 100 países em sua lista em que estão focados, principalmente no Sudeste Asiático, Oriente Médio e África Subsaariana. Sabemos que as vacinas primárias continuam sendo uma oportunidade em algumas das regiões carentes”.
Produzir mais anticorpos e de melhor qualidade é uma das principais formas pelas quais as vacinas de segunda geração esperam se destacar, como uma opção potencial de reforço nos EUA e na Europa, mas também como vacina primária em muitas partes do mundo.
Brian Ward, que trabalha para a empresa canadense de biotecnologia Medicago, diz à BBC que eles estão se preparando para publicar dados de seu ensaio clínico de fase 3 e que pretendem solicitar a aprovação regulatória para sua vacina em algumas semanas.
A Medicago alega que seu imunizante induz a produção de um volume mais elevado de anticorpos do que as vacinas atuais.
“As vacinas de MRNA produzem um volume de anticorpos de dois e meio a quatro vezes maior do que em alguém se recuperando de covid-19”, explica Ward. “Já as vacinas da Novavax e as nossas têm taxas de 10-15 vezes maiores.”
As informações são da BBC News.