Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de julho de 2020
Com o Reino Unido abrindo suas portas para três milhões de residentes de Hong Kong e a China ameaçando uma retaliação séria pelo que vê como intromissão em seus assuntos internos, a crise de Hong Kong está se tornando um teste de diplomacia em tempo real em um mundo ainda focado no combate a uma pandemia.
E o que esse drama nos diz sobre o lugar emergente da China na nova ordem mundial? E que luz lança sobre os problemas muito particulares colocados, pós-Brexit, para os esforços do governo britânico de implementar uma política externa nova e otimista sob a bandeira de Global Britain (Grã-Bretanha global)?
Uma pergunta que muito fazem é se essa crise era inevitável. As coisas poderiam ter sido muito diferentes. Por mais de duas décadas, a maioria dos formuladores de políticas no Ocidente esperava que a ascensão da China se desenrolasse de uma maneira muito específica.
Dizia-se que a China se tornaria uma “parte interessada responsável” na comunidade internacional. Em outras palavras, obedeceria a acordos e normas internacionais porque, como parte do sistema, estaria se beneficiando delas tanto quanto qualquer outro.
Talvez nesse tipo de mundo o acordo firmado entre os governos britânico e chinês sobre o futuro de Hong Kong tivesse sobrevivido.
A ascensão chinesa
Mas as coisas não acabaram assim. A ascensão da China foi rápida e determinada. Tornou-se uma superpotência militar, pelo menos em sua própria região — e que, mesmo se fosse mais perto, os poderosos Estados Unidos teriam dificuldades para enfrentar.
Mas sua ascensão também ocorreu no momento em que o Ocidente em geral e os Estados Unidos em particular estavam distraídos. Houve a guerra contra o terrorismo e a crise na Síria. A Europa teve a distração do Brexit.
E houve o governo Trump nos Estados Unidos, que não foi consistente com as políticas relacionadas à China — de fato, faltou um estratégia na política externa em geral.
A ascensão da China nos últimos cinco anos coincidiu não apenas com um relativo declínio da posição de Washington no exterior, mas com um declínio absoluto, em que se observou todos os sistemas de aliança de Washington na Ásia, Europa e Oriente Médio mergulhando em crises.
Embora os problemas entre o Ocidente e a China tenham crescido em número, não houve uma visão conjunta de que esses elementos — as tensões comerciais, rivalidades tecnológicas, questões estratégicas e assim por diante — pudessem indicar que o “problema da China” fosse grande o suficiente para exigir cooperação e uma resposta coordenada.
Este era o mundo à beira da crise da Covid-19, um drama que se originou na China e que inicialmente causou alguns problemas sérios para Pequim, mas um problema do qual claramente estava determinada a tirar vantagem.
Não é por acaso que um tom nacionalista mais estridente na política chinesa tem sido o resultado disso, variando de tensões com os EUA e a Austrália, a rivalidade sino-indiana em sua fronteira comum e, ainda, a decisão da China de derrubar os fundamentos de seu acordo com o Reino Unido sobre Hong Kong.
De fato, a crise da Covid-19 deu a Pequim a oportunidade de trazer à tona a crise de Hong Kong.