Especialistas em moda e imagem afirmam que as escolhas de estilo hoje estão apoiadas no termômetro das pesquisas eleitorais. Comenta-se que na corrida pela simpatia do eleitor, os candidatos procuram ser “mais povão” que no passado. Significaria, por exemplo, adotar mais camisetas polo no contato corpo a corpo com os eleitores e deixar os itens de alfaiataria apenas para santinhos e debates televisionados. As peças casuais suplantaram o combo de paletó, calça social, camisa e gravata.
A tentativa de aproximação com o eleitor não se restringe à questão da renda per capita. No pleito em que 33,3% dos postulantes são mulheres, parte delas explora cores e sobreposições para defender a pauta da equidade.
Na sabatina do “Jornal Nacional”, Simone Tebet (MDB), por exemplo, combinou o blazer azul com camisa rosa choque. A cor ganhou projeção no meio político após a Marcha das Mulheres nos Estados Unidos, em 2017, quando milhares foram às ruas americanas com toucas dessa cor para protestar contra as falas misóginas do presidente recém-empossado, Donald Trump.
Cores seriam elementos cruciais na nova composição imagética do xadrez brasileiro e ganham força, curiosamente, menos pelo viés partidário e mais pelo efeito na audiência. A mistura de cinza e branco virou padrão. Ela que forrou, por exemplo, os conjuntos de três dos cinco candidatos, de situação e oposição, num debate para o governo do Rio de Janeiro.
De acordo com a consultora de coloração pessoal Luciana Ulrich, o cinza transmite “uma ideia de modernidade e um olhar para o futuro, porque remete ao futurismo do prateado”. Dona da consultoria Studio Imaginne, ela explica que o branco “perdeu o sentido de nobreza no
contexto político” para ganhar contornos de “limpeza moral”.
Mesmo o laranja elétrico do Partido Novo, que chegou ao cenário defendendo uma renovação dos quadros em Brasília, foi escanteado no armário dos postulantes para ser usado apenas em peças
publicitárias. “É uma cor que transmite jovialidade, mas não credibilidade”, afirma Ulrich, citando noções da psicologia das cores.
O vermelho petista também está mais restrito, nesse caso, aos detalhes das poucas gravatas usadas por Lula em encontros formais como o da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em agosto, quando foi sabatinado por empresários. A peça tinha linhas vermelhas sobrepostas ao dourado, o tom da prosperidade econômica.
Quando fala às bases, o look se altera. No mesmo agosto, em discurso na cidade de Teresina, no Piauí, o branco de sua camisa era bordado com flores vermelhas. De acordo com fontes consultadas, elas remetem ao trecho do discurso em São Bernardo do Campo, um dia antes de sua prisão, em 2019, no qual Lula disse que “poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera”. A fala hoje é usada em áudio nos comícios do petista, e o palco, tomado por flores.
Segundo o doutor em semiótica e estilista de moda masculina Mario Queiroz, o ex-presidente tentaria se aproximar do eleitorado jovem ao apostar em peças de jeans – estratégia que também é adotada por Ciro Gomes – e em roupas que emulam “líderes contemporâneos do cenário internacional”. Bolsonaro, por sua vez, adotaria um ideal de masculinidade normalizada em estratos conservadores, com mais sobreposições que transmitiriam a mensagem “de estar escondido em suas próprias ideias” e rechaço ao uso de tons coloridos.
A análise se estende às roupas do presidente em motociatas. Monocromático, ele opta por peças vinculadas ao teor militarista de seu discurso, como o preto e os que tingem folhagens nos uniformes do exército. Os costumes e as camisas são cortadas pelo alfaiate particular, o carioca Santino Gonçalves, que fez o conjunto da posse, em 2018, e criou o padrão de costurar duas linhas, verde e amarela, nas lapelas do cliente. A dupla cromática viraria a principal ferramenta de distinção do bolsonarismo.
Consultora de imagem cujo currículo inclui nomes do PSDB, PSOL, MDB e PT, a brasiliense Marcia Rocha pondera que, apesar do decoro no figurino, o presidente estaria desajustado no uniforme. “Os punhos nunca estão aprumados e os botões das camisas [usadas nas ruas] sempre aparecem abertos em cima”, afirma Rocha.
Marcas não figuram nas falas dos candidatos, mas é público que algumas fazem sucesso em Brasília. O estilista Ricardo Almeida relembra que, quando vestiu o ex-presidente do Partido Nacionalista Peruano Ollanta Humala, há mais de dez anos, não dizia “porque poderia pegar mal para ele usar uma marca de fora do país”.
A receita de estilo na política é complexa e parece oscilar, para usar as palavras de Ciro Gomes, entre a adoção de uma modéstia por compaixão aos mais pobres e uma elegância pouco dada à contenção de gastos. Os críticos desse desfile são os próprios eleitores.