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Saiba o que causa o burnout e como lidar com essa condição

Desde 1999, o Brasil tem uma lista com 182 doenças profissionais reconhecidas; desde dezembro, passou a contar com um total de 347 patologias. (Foto: Pexels)

Atualmente, mais de um terço dos adultos britânicos afirmam que sentem fadiga permanentemente ou na maior parte do tempo. E os diagnósticos de burnout atingiram níveis recordes.

O que está nos levando a tanta exaustão? E como podemos aumentar a nossa resiliência?

Para descobrir as respostas, o escritor de ciências David Robson conversou com a historiadora cultural Anna Katharina Schaffner, que é coach executiva especializada em burnout.

Seu novo livro, Exhausted: An A-Z for the Weary (“Exaustos: O Cansaço de A a Z”, em tradução livre), examina a história e a ciência da exaustão.

A autora fornece conselhos baseados em evidências para lidar com o estresse que a vida nos traz.

Confira a seguir a entrevista:

1. Qual é a diferença entre exaustão e burnout?

Nossa ansiedade em torno da energia – e o gasto excessivo das nossas reservas – é muito antiga. Existem muitas evidências sobre a preocupação das pessoas com a exaustão e suas causas, que remontam até a China antiga.

Já o burnout é uma síndrome com sintomas muito específicos.

Ele é definido como uma doença ocupacional que se manifesta na queda da energia e da eficácia, aliada à “despersonalização”, ou seja, uma atitude mais cínica em relação às pessoas ou às organizações com quem trabalhamos.

Se a exaustão é um espectro, o burnout é a ponta do espectro. É uma condição muito séria.

Algumas pessoas com burnout podem se sentir totalmente incapacitadas. Seus corpos dizem “não” e param de funcionar. Muitas vezes, elas precisam mudar de profissão e podem levar anos para se recuperarem.

2. Por que o burnout está ficando mais comum?

Existem muitos estudos que mostram que o burnout está aumentando em todo o mundo, em muitos campos de trabalho diferentes.

Acho que isso se deve, em parte, às nossas dificuldades em uma cultura de trabalho mais precária e competitiva. E também à nossa tendência de supervalorizar o trabalho. Ele ocupa posição central no nosso universo emocional.

Hoje em dia, nós esperamos demais do trabalho – não só status e renda, mas legitimidade. Queremos que ele forneça uma sensação de propósito e uma oportunidade de realização pessoal.

No passado, as fronteiras entre o trabalho e o prazer eram definidas com mais clareza. Agora, com a tecnologia moderna, estamos sempre conectados.

A menos que sejamos muito disciplinados, achamos difícil desligar do trabalho e deixar de verificar e-mails e mensagens nos aplicativos. Com isso, nossos pensamentos giram em torno do trabalho todo o tempo.

3. Quais são os principais motivos que levam ao burnout?

As pesquisas indicam que as seis principais causas do burnout são excesso de trabalho, falta de autonomia, recompensas inadequadas, perda de comunidade, incongruência de valores e injustiça.

O fator da injustiça provavelmente é o mais importante que encontro em meus clientes. A falta de reconhecimento pode causar incríveis sofrimentos.

Estudos demonstram que a falta de reconhecimento pode dobrar o risco de burnout. Isso é deprimente, porque é algo tão fácil, mas muitos chefes são terríveis para fazer as pessoas se sentirem reconhecidas.

4. Como os nossos padrões pessoais de pensamento exacerbam o estresse que sentimos?

Já foi comprovada a correlação entre o perfeccionismo e o burnout.

Se tivermos expectativas altas e fora da realidade sobre o que devemos alcançar e julgarmos nosso trabalho com muita severidade, seremos muito mais propensos ao burnout.

Muitas pessoas têm um “crítico interno” – uma forte voz negativa dentro de si. É como se alguém estivesse constantemente aos gritos fazendo comentários negativos sobre nós. Isso pode drenar nossa energia pelo lado interno.

6. Que tipo de estratégias baseadas em evidências pode ajudar as pessoas a lidar com a sensação de exaustão e o burnout?

A primeira medida para superar a exaustão é entender nossas preferências, para podermos ser inteligentes e conscientes sobre quanto tempo passamos fora da nossa zona de conforto e saber quando devemos retornar para nos recuperarmos.

Também precisamos entender nossos principais fatores de estresse e identificar quais deles estão sob o nosso controle e quais não estão.

No meu trabalho como coach, uso também os princípios da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT, na sigla em inglês).

O componente “aceitação” é a ideia de que é normal ter pensamentos e sentimentos “negativos”, como medo, raiva e tristeza. Você não precisa necessariamente combatê-los imediatamente.

Em outras formas de terapia, você precisa tentar estabelecer evidências para provar que o seu crítico interno está errado. Mas tentar raciocinar e argumentar com esses estados de espírito pode consumir muita energia cognitiva.

Já com a ACT, podemos tentar “desligar” esses pensamentos e emoções negativas, assumindo a posição de observador objetivo.

Em vez de dizer “estou com muita raiva de X, Y e Z”, você pode substituir essa expressão por “estou percebendo que estou com raiva”.

Esta simples mudança de perspectiva oferece um senso de distância, além de maior controle e poder.

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