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Por Redação O Sul | 28 de julho de 2022
O anúncio do quarto caso de “cura” do HIV por médicos americanos trouxe inúmeras perguntas. Como é possível que alguém seja considerado, de fato, curado do HIV? O que é a remissão e quais as diferenças entre os casos de sucesso? Teremos, por certo, alguma cura acessível para grande parte da população em breve?
Existem alguns critérios para considerar que uma pessoa foi curada do HIV, explica Ricardo Diaz, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Porém, ele diz que atualmente o termo “cura” não é o mais indicado. O mais correto seria referir-se aos casos como “remissão sustentada do HIV sem antirretrovirais”.
Para isso, Diaz explica que é preciso esperar ao menos dois anos. Esse é um critério importante, segundo ele, para que seja verificado efetivamente se o HIV não voltou sem os antirretrovirais e que existe essa tendência progressiva de diminuição dos anticorpos detectáveis para o vírus.
O infectologista diz que embora fundamental, suspender o tratamento com antirretrovirais é um procedimento relativamente arriscado, pois promove a interrupção do tratamento que impede a multiplicação do vírus no organismo.
Remissão sustentada
O primeiro paciente do mundo considerado curado do HIV foi Timothy Ray Brown, inicialmente chamado de “paciente de Berlim”; o segundo caso de sucesso é do chamado de “paciente de Londres”, como ficou conhecido Adam Castillejo, um venezuelano que morava na capital inglesa. Os dois passaram por um transplante de medula óssea.
Ambos os homens receberam o transplante de medula de pessoas que tinham uma mutação de um gene (CCR5-delta 32) que as tornava naturalmente resistentes à infecção pelo HIV.
Já o terceiro caso – o primeiro de uma mulher considerada curada do HIV – foi de uma paciente norte-americana de 64 anos com leucemia, que ainda não havia completado dois anos de remissão. “Mas tudo leva a crer que, com o transplante de medula, ela foi curada”, avalia Diaz.
Todos esses casos, segundo o infectologista Ricardo Diaz, podem ser classificados como “remissão sustentada do HIV sem antirretrovirais” ou “cura esterilizante”, embora esse não seja um termo mais amplamente aceito.
Cura difícil
Nas pessoas “comuns” – a vasta maioria que não consegue controlar naturalmente o HIV – a intenção da terapia antirretroviral é “acordar” o vírus que está latente – “dormindo” dentro das células – e eliminá-lo. É o mesmo “chocar e matar”, só que com a ajuda de medicamentos.
É essa latência que torna tão difícil eliminar o HIV.
“Tem uma quantidade de células – que é de 0,01% até 0,0001% – que têm vírus latente. O vírus latente vai acordando ao longo do tempo. Se você tratar as pessoas com coquetel, o vírus vai saindo da latência e você vai diminuindo essa porcentagem de vírus latente. Igual a um balãozinho, que vai murchando”, explica Ricardo Diaz.
“Aí você cura a pessoa – só que demora. 80 anos. Para curar uma pessoa, você teria que tratar de forma efetiva por 80 anos. Por isso que não dá para interromper o tratamento – porque, na hora que você interrompe, aparece um vírus latente”, esclarece.
Quando teremos uma cura acessível para grande parte da população?
Todos os quatro casos considerados “curados” adotaram uma estratégia que Diaz chama de anedótica, pois são considerados raros e impossíveis de serem traduzidos para uma escala maior.
Ele diz também que esse não é um procedimento simples, pelo contrário: um transplante de medula envolve riscos e não é isento de complicações.
Para Diaz, o desafio agora é encontrar uma técnica que faça “menos mal do que bem”. “E fazer transplante de medula para todo mundo vai matar muita gente que estaria bem por aí”, alerta.
Atualmente no Brasil existem 920 mil pessoas vivendo com HIV, segundo o Ministério da Saúde.