Sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de fevereiro de 2023
As DNTs (Doenças Tropicais Negligenciadas) afetam quase 2 bilhões de seres humanos em todo o mundo, com graves consequências, também econômicas e sociais, e estão se alastrando para novas regiões. “Essas doenças são ‘negligenciadas’ porque estão quase totalmente ausentes dos planos globais de saúde”, lembrou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A OMS contabiliza atualmente 20 enfermidades como Doenças Tropicais Negligenciadas. A transmissão se dá de forma muito simples, seja uma picada de inseto, sejam pequenos parasitas que penetram na pele durante o banho num lago.
Sem tratamento, suas consequências podem restringir a vida de forma permanente, e levar à incapacidade física e até a morte.
No caso da infecção por tracoma, que ocorre em muitas regiões do mundo, há risco de cegueira; a filariose linfática (elefantíase) causa inchaço permanente dos membros. Outros patógenos atacam órgãos internos como rins ou fígado, ou destroem células nervosas e causam grandes danos ao coração, como no caso da doença de Chagas, muito comum na América do Sul. Milhões de seres humanos, principalmente em países tropicais, se infectam com DTNs a cada ano.
Cinco patógenos (denominados “the big five”) desencadeiam cerca de 90% de todas as DTN: filariose linfática (elefantíase), cegueira dos rios (oncocercose), tracoma, bilharziose (esquistossomose) e infestação por geo-helmintos.
As camadas mais pobres da população na África, Ásia e América Latina são particularmente atingidas. Apesar de ser amplamente difundido, o atendimento médico para DTNs ainda é frequentemente negligenciado. Isso traz não só séria redução da qualidade de vida do paciente, como também consequências econômicas.
DTNs no mundo
As DTNs afetam 1,7 bilhão de habitantes de 149 países; outros 2 bilhões estão ameaçados por elas, de acordo com a Rede Alemã contra as Doenças Tropicais Negligenciadas. Estima-se que as vítimas diretas ou indiretas das DTNs a cada ano cheguem a 500 mil.
As Doenças Tropicais Negligenciadas são encontradas em todas as regiões tropicais do planeta, do Sudeste Asiático ao Oriente Médio, África e América do Sul. “Os países africanos são os mais atingidos”, explicou Jürgen May à DW. Ele dirige o Instituto Bernhard Nocht de Medicina Tropical, em Hamburgo, onde são pesquisadas infecções globais.
Indivíduos de baixa renda correm risco especialmente alto, sobretudo em áreas rurais ou de difícil acesso a atendimento médico, onde muitas vezes também há dificuldade de obter água potável e alimentos.
“Em muitos países há um círculo vicioso de doenças e pobreza. As próprias doenças levam a mais pobreza. E os problemas de higiene que andam de mãos dadas com a pobreza, também”, diz May.
Quem está permanentemente doente muitas vezes não consegue mais trabalhar e cuidar de sua famílias. E as deficiências causadas pelas DTNs podem levar a ainda mais estigma e exclusão.
As doenças costumam ser piores para as mulheres e crianças. Muitas crianças ficam incapacitadas para frequentar a escola ou têm deficiências de desenvolvimento, e atualmente não há medicamentos infantis apropriados para muitas DTNs.
Negligência
Embora bilhões em todo o mundo estejam ameaçados pelas DTNs, a luta contra elas ainda é subfinanciada e não está suficientemente no foco dos sistemas de saúde, alertam organizações de ajuda como a ONG CBM, que se empenha em todo o mundo pelos portadores de deficiências.
O termo “doenças negligenciadas” também mostra “como é difícil chamar a atenção para as DTNs, bem como para os grupos populacionais negligenciados que mais sofrem com elas”, explica o infectologista May.
Moradores tanto de zonas rurais quanto de favelas urbanas não costumam ser priorizados pelos tomadores de decisão política, e “muitos não estão cientes de que essas doenças são graves e crônicas”.
A pandemia de covid provocou grandes retrocessos na luta contra as doenças tropicais negligenciadas em diversos países africanos, pois milhões de doses de remédios não puderam mais ser distribuídas aos pacientes.
“Nos últimos dois ou três anos, ficamos atrasados 15 anos”, calcula May. Em muitos países tropicais, as consequências das infecções por covid-19 não foram tão graves quanto as das DTNs.