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Por Redação O Sul | 27 de agosto de 2020
É um enigma político persistente, em meio a uma recessão pandêmica, a taxa de desemprego de dois dígitos e a uma recuperação que parece desacelerar: por que o presidente americano Donald Trump continua a obter avaliações mais altas na área econômica em pesquisas do que seus antecessores Barack Obama, George W. Bush e George H. W .Bush em suas campanhas à reeleição?
A força de Trump na economia e se Joe Biden é capaz de diminuí-la nas próximas 10 semanas são duas questões cruciais nos estados em disputa no Meio-Oeste e no Cinturão do Sol — aqueles que devem decidir a eleição. Muitos desses Estados têm enfrentado o aumento de infecções pelo coronavírus, bem como com a perda de empregos e o desaparecimento de salários e economias. São tempos difíceis, o que, de acordo com a História, apresenta uma ameaça para um presidente em exercício que busca se reeleger.
No entanto, dados de pesquisas e entrevistas com eleitores e analistas políticos sugerem que uma confluência de fatores está reforçando a posição de Trump na área econômica, que, assim como antes da crise, continua a ser uma peça central de sua proposta para um segundo mandato.
O presidente construiu uma marca duradoura com eleitores conservadores, em particular, que continuam a vê-lo como um empresário de sucesso e um negociador duro. Muitos desses eleitores elogiam sua administração econômica antes de a pandemia chegar, e não o culpam pelos estragos que esta causou. Em entrevistas, alguns desses eleitores citaram ganhos recordes no mercado de ações — embora apenas cerca de metade dos americanos possuam ações — como evidências de uma recuperação iminente sob um novo governo do presidente.
“Ele teve fracassos, e eu também, nos negócios”, disse Dale Georgeff, um apoiador do Trump que possui ações de uma cervejaria, uma oficina de pintura de veículos e também vende seguros. “Mas acho que o mais importante é que ele está tratando a Presidência como um negócio e está a gerindo como um negócio… Acho que é isso o que irrita certas pessoas.”
David Winton, um estrategista e pesquisador republicano, disse que as avaliações de Trump melhoraram com a adição de 9 milhões de empregos em maio, junho e julho, depois que o país perdeu mais de 20 milhões de vagas em março e abril. A aprovação de Trump na economia “permaneceu positiva e melhor do que a aprovação geral de seu mandato”, disse ele.
A pesquisa sugere que os americanos que formam a base de eleitores de Trump têm menos probabilidade de perder um emprego ou renda do que os eleitores democratas ou independentes. Essa divergência é parcialmente motivada pela raça — a crise do coronavírus prejudicou desproporcionalmente os trabalhadores negros e latinos, que são fortemente democratas — mas também pode refletir as divisões regionais.
Proprietários de pequenas empresas em Estados pequenos e mais rurais que apoiaram Trump nas eleições de 2016 relatam menos danos econômicos em decorrência da crise do que aqueles em grandes Estados democratas, de acordo com uma pesquisa do Grupo de Inovação Econômica em Washington.
Talvez o mais notável seja o fato de Trump estar colhendo os benefícios da extrema polarização do eleitorado americano, uma divisão tão intensa que alterou as tradicionais ligações entre o desempenho econômico e os índices de aprovação presidencial. Para muitos eleitores republicanos e conservadores, o otimismo sobre a economia e a aprovação do presidente se tornaram profundamente entrelaçados — e para os democratas, o desgosto com Trump trouxe profundo pessimismo sobre a economia, mesmo nos anos de crescimento e baixo desemprego antes da crise.
Pesquisas conduzidas em junho, julho e agosto para o The New York Times pela empresa de pesquisa online SurveyMonkey ressaltam o grau em que mesmo os republicanos duramente atingidos pela crise continuam a dar notas altas a Trump e à sua economia. Oito em cada 10 entrevistados republicanos que perderam o emprego na recessão e ainda não voltaram ao trabalho aprovam a forma como Trump lidou com a pandemia. Quase 3 em cada 10 republicanos que perderam empregos dizem que estão em melhor situação econômica do que há um ano, um sentimento compartilhado por só 1 em cada 10 democratas que mantiveram os empregos durante a crise.