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Por Redação O Sul | 18 de maio de 2019
A viagem de seis dias do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) à China, que se inicia neste domingo (19), é considerada decisiva para fortalecer as relações entre o Brasil e seu principal parceiro comercial. A visita tem uma importância simbólica e duas possíveis consequências econômicas práticas.
Primeiro, seria uma demonstração de que o Brasil de fato considera a China como um parceiro importante. Isso é particularmente relevante diante dos comentários hostis feitos por Jair Bolsonaro (PSL) sobre o país antes de ser eleito presidente.
Já do ponto de vista econômico, Mourão e o vice-presidente chinês, Wang Qishan, deverão reativar o mais importante fórum de negociação comercial entre os dois países, a Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), que estava paralisada desde 2015. O encontro ocorre no dia 23 e é o principal compromisso da agenda durante a viagem.
Também há expectativa de que o vice brasileiro apresente um posicionamento do governo Bolsonaro sobre a iniciativa Belt and Road – também conhecida no Brasil por Nova Rota da Seda – pela qual a China promove investimentos em infraestrutura em troca de benefícios econômicos. “Tem que haver um casamento, benefício mútuo”, declarou Mourão antes de embarcar.
Papel de conciliador
Segundo o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang, a viagem de Mourão é uma oportunidade para o Brasil “reassegurar que considera a China um parceiro importante”, um pressuposto que ficou arranhado com as declarações hostis dadas por Bolsonaro durante a campanha eleitoral. O capitão reformado chegou a dizer que a potência asiática tentava controlar setores essenciais da economia brasileira, como o de energia, e não estava “comprando [produtos] do Brasil, mas o Brasil”.
Outro episódio que desagradou o governo chinês foi a visita a Taiwan de Bolsonaro e dos filhos Flávio, Carlos e Eduardo, em março de 2018. A China considera Taiwan uma ilha rebelde. Desde 1974, quando estabeleceu relações com Pequim, o Brasil assinou um documento reconhecendo que Taiwan é parte da República da China. A maior parte da comunidade internacional adota a mesma posição.
À época da viagem da família Bolsonaro a Taiwan, a embaixada da China no Brasil manifestou “sua profunda preocupação e indignação pela referida visita, que não só afronta a soberania e integridade territorial da China, como também causa eventuais turbulências na Parceria Estratégica Global China-Brasil”.
Nesse sentido, o professor de Relações Internacionais Leandro Consentino acrescenta que Mourão tem sido “a grande figura de conciliação” nos episódios de desentendimento – repetindo o mantra de que a China é um parceiro comercial importante para o Brasil. Assim, acrescenta Consentino, a visita de Mourão poderia dar um tom mais pragmático à política externa bolsonarista, em oposição à postura do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, vista muitas vezes como mais ideológica.
Tang, da Câmara de Comércio Brasil-China, acrescenta que Mourão recebeu uma “deferência especial” do governo chinês, já que há previsão de encontro com o presidente chinês, Xi Jinping. Não é praxe no mundo da diplomacia que um presidente receba um vice – o encontro é, em geral, entre autoridades do mesmo escalão. Por isso, a possível reunião é encarada como sinal de prestígio.