Para bom entendedor, a publicação no X da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, na noite de domingo (27), para comemorar a única vitória do partido em capitais deixou um recado para o futuro da legenda.
Ao celebrar a eleição de Evandro Leitão a prefeito de Fortaleza, a dirigente agradeceu às principais autoridades petistas do Ceará: o governador Elmano de Freitas, o ministro da Educação, Camilo Santana e o deputado federal José Guimarães.
Líder do governo na Câmara dos Deputados, mas com participação menos efetiva na campanha eleitoral do que Elmano e Camilo, Guimarães ganhou elogio de Gleisi por conta do contexto da disputa interna que se avizinha pelo comando do partido. A sucessão de Gleisi, marcada para junho de 2025, já começou nos bastidores, e o parlamentar do Ceará é um nome que vem sendo colocado para comandar a sigla.
Há uma antiga reinvindicação de petistas do Nordeste por mais espaço no comando da legenda, já que a região tem obtido a maioria dos triunfos eleitorais recentes da sigla. No entanto, lideranças de São Paulo defendem que o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, seja o próximo presidente do partido. “Como há um desejo do Nordeste de ter uma participação mais efetiva na direção nacional, é legítimo, até pelo peso político que eles têm em relação ao próprio PT. É uma região onde o PT tem as suas maiores vitórias”, disse Gleisi.
O argumento contrário ao apresentado pela dirigente é o de que o sucesso eleitoral não é um critério para ocupar a presidência do partido. Prova disso é a própria Gleisi. Presidente mais longeva da história do PT (ocupa o cargo desde julho de 2017), ela é filiada ao partido no Paraná, estado onde a legenda não alcança a maioria dos eleitores.
Nessa segunda-feira (28), a Executiva Nacional se reúne para fazer um balanço das eleições municipais e já se imagina, nos bastidores, que iniciem as discussões sobre os rumos do partido, com vistas para 2026. Para além de nomes para liderar a sigla, uma discussão ideológica também está na mesa.
Na entrevista que concedeu para a reportagem da revista Veja, Gleisi falou sobre as diferentes visões que estão em jogo nos debates sobre o futuro do partido, como a necessidade de a legenda abraçar mais o centro político. Além disso, negou que tenha sido convidada para fazer parte do governo e que a data das eleições internas seria adiantada para que ela pudesse ser incluída na reforma ministerial.
Também afirmou que é “preciso ter clareza da questão programática” envolvendo o partido. “Quais são os desafios que o PT tem para se situar diante da nova realidade? As disputas que temos que fazer no novo mercado de trabalho, as novas formas de comunicação? Estamos falando de rede social, empreendedorismo, trabalho em plataforma, toda a variedade de trabalho informal. Como o partido se prepara para isso, já visando a eleição de 2026? Daí vai sair não só o novo presidente, mas também a nova direção do partido”, afirmou. (Maquiavel/Revista Veja)