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Geral Saiba por que as eleições na Índia importam para o Brasil e o mundo

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O partido nacionalista hindu, do atual primeiro-ministro Narendra Modi, teve sua vitória confirmada pela terceira eleição seguida. (Foto: Reprodução)

Os olhos do mundo inteiro se voltaram para a Índia na terça-feira (4). Após um processo eleitoral que durou meses, o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP), do atual primeiro-ministro Narendra Modi, teve sua vitória confirmada pela terceira eleição seguida — ainda que menos expressiva do que esperado. Embora à primeira vista o futuro da agora nação mais populosa do mundo pareça irrelevante ao Brasil, os países compartilham algumas agendas em comum no xadrez político global, a começar pelo equilíbrio de forças no Brics, que dobrou seu número de membros em janeiro.

Membro original do grupo de potências emergentes (ao lado de Brasil, Rússia e China, e mais posteriormente África do Sul), o papel da Índia hoje nos Brics é bem parecido com o brasileiro em sua busca por protagonismo no chamado Sul Global. Durante a cúpula de líderes em Johannesburgo no ano passado, os dois eram contra a expansão do número de membros temendo a diluição do seu poder e o aumento da influência chinesa.

Voto vencido, o Brasil havia conseguido articular ao menos a entrada da Argentina para ter um parceiro ao seu lado, mas a eleição de Javier Milei derrubou os planos, e o vizinho retirou sua adesão um mês antes de ser oficializada. No final, entraram Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egito e Irã — todos com laços com Pequim, alguns com a Rússia e a África do Sul, mas nenhum muito relevante ao Brasil ou à Índia.

A nova formação dos Brics, com países sob sanção dos Estados Unidos e a participação de ditaduras do Golfo Pérsico, levou muitos analistas a considerarem o grupo um contraponto do Sul Global ao G7 (grupo das maiores economias do mundo, formado por EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido).

Do ponto de vista geopolítico, realmente interessa tanto ao Brasil quanto à Índia uma reforma da governança global que dê mais poderes aos emergentes — ambos pleiteiam uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, por exemplo.

Economicamente, no entanto, Brasília e Nova Délhi rejeitam qualquer narrativa que prejudique seus comércios com o Ocidente. Ao contrário, quanto mais opções de parceiros, melhor.

“No caso de países como o Brasil e a Índia, que não têm uma ambição de impor suas moedas como hegemônicas, se o sistema se tornar multipolar, aumenta a capacidade deles de barganha”, analisou Daniel Sousa, economista e apresentador do podcast Petit Journal, em entrevista ao jornal O Globo em janeiro.

Na mira do mundo

No caso da China, a disputa ultrapassa as esferas do Brics. Nas remotas montanhas do Himalaia, milhares de soldados indianos e chineses estão a postos para defender as fronteiras de Ladaque, território que os dois países reivindicam como seu. Sob o governo de Modi e do líder chinês, Xi Jinping, 20 militares morreram durante confrontos na região em 2020 — a maior troca de hostilidades entre os vizinhos desde a guerra travada em 1962.

Desde então, tanto Pequim quanto Nova Délhi aumentaram o investimento em infraestrutura e o contingente militar na área, que corre o risco de escalada para um conflito armado, segundo alerta de março do diretor da Inteligência dos EUA. A tensão explica por que Modi também tem aprofundado as suas relações com Washington, atuando como um freio à influência chinesa no Indo-Pacífico e, em contrapartida, recebendo mais recursos americanos por meio da aliança Quad, parceria de segurança que inclui, além dos EUA, Austrália e Japão.

Por outro lado, a Índia acusa Pequim de ajudar seu velho inimigo Paquistão, de quem reivindica o território da Caxemira, alimentando os temores de Nova Délhi de um possível conflito em duas frentes. Por isso, além da aliança com os EUA, uma agenda importante da política externa de Modi é rivalizar com a China por influência em países menores da região, como Bangladesh, Maldivas, Nepal e Sri Lanka.

A vitória de Modi na terça mostra como a imagem que ele projeta de si mesmo como um influente líder global — cujas ambições chegaram até ao espaço — pode reverter nas urnas. Ao posicionar o país como articulador regional e um aliado dos americanos capaz de frear a China, o primeiro-ministro indiano estimulou o orgulho nacional enquanto posicionava a nação como potência. Cabe observar como a receita de sucesso do homem forte na política externa seguirá agora com o seu partido, pela primeira vez, sem a ampla maioria que o permitiu governar sem a necessidade de alianças nos últimos anos. As informações são do jornal O Globo.

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