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Saiba por que associação de médicos agora quer proibir o “kit covid”

Condenações da Justiça Federal do Rio Grande do Sul ocorreram por danos morais coletivos e à saúde. (Foto: Reprodução)

Na última terça-feira (23), a Associação Médica Brasileira (AMB) mudou de posicionamento sobre os remédios do chamado “kit covid”. A associação, que no ano passado defendeu a autonomia do médico na prescrição da hidroxicloroquina, agora afirma que o remédio – assim como os outros do “kit” – não devem ser usados no tratamento da doença.

A AMB criou um comitê que revisou estudos sobre a eficácia da hidroxicloroquina e de outros remédios do “kit covid” no tratamento da covid-19. Esse comitê concluiu que, segundo os estudos disponíveis, os remédios não funcionavam, afirmou o novo presidente da entidade, o médico César Fernandes.

Depois dessa análise, a AMB divulgou uma nota em que dizia que o uso os medicamentos do “kit” deveria ser banido do tratamento da covid.

Esses remédios “banidos” são: hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina. Além desses, a AMB fala em “outras drogas”, mas não cita outros nomes de remédios.

Os medicamentos citados não devem ser usados em nenhuma fase da doença – nem na prevenção, nem na fase inicial, nem na fase avançada.

Em entrevista concedida à GloboNews, o presidente da AMB disse que a nova decisão não é motivada por ideologia política.

Maior risco de morte

Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como estratégia de combate ao coronavírus, o chamado “kit covid” ou “tratamento precoce”, na verdade, contribui para aumentar o número de mortes de pacientes graves, disseram à BBC News Brasil diretores de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de referência.

Mais de um ano depois de a pandemia chegar ao Brasil, Bolsonaro continua defendendo a prescrição de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, embora diversas pesquisas científicas apontem que esses remédios não têm eficácia no tratamento de covid-19.

“Muitos têm sido salvos no Brasil com esse atendimento imediato. Neste prédio mesmo (Palácio do Planalto), mais de 200 pessoas contraíram a covid e quase todas, pelo que eu tenha conhecimento, inclusive eu, buscaram esse tratamento imediato com uma cesta de produtos como a ivermectina, a hidroxicloroquina, a azitromicina”, disse o presidente no início do mês.

Mas as evidências científicas apontam que esses remédios não têm efeito de prevenção ou tratamento precoce de covid. E médicos de hospitais de referência ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a defesa e o uso do “kit covid” contribuem de diferentes maneiras para aumentar as mortes no País.

O médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, em São Paulo, destaca que entre 80% e 85% das pessoas não vão desenvolver forma grave de covid-19. Para esses pacientes, usar o “kit covid” não vai ajudar em nada. Também pode não prejudicar, se a pessoa não tomar doses excessivas, não desenvolver efeitos colaterais, nem tiver doenças que possam se agravar com esses medicamentos.

Mas, para 15% ou 20% que precisam de internação, essas drogas, segundo ele, podem prejudicar o tratamento no hospital e contribuir para a morte de pacientes.

Transplante

O uso indiscriminado de medicamentos do chamado “kit covid”, como a ivermectina, levou pacientes a desenvolverem graves de lesões no fígado, que demandam até necessidade de transplante, segundo médicos do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e do hospital da Universidade de Campinas (Unicamp).

Ao menos quatro pacientes que fizeram uso desses remédios estão na fila de transplantes após serem atendidos nesses dois hospitais.

O uso da ivermectina, hidroxicloroquina e outros medicamentos que não têm eficácia comprovada contra o coronavírus está sendo apontado como causa de morte por hepatite de ao menos três pessoas, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.

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