Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de maio de 2016
A primeira noite de sono em uma cama desconhecida costuma ser difícil. Mesmo em quartos confortáveis e em ambientes silenciosos, o sono parece leve e atribulado. O problema é tão conhecido que, há pelo menos 50 anos, tem o nome “efeito da primeira noite”, mas os médicos ainda não sabiam por que ele ocorre.
De acordo com um novo estudo publicado recentemente no periódico Current Biology, o sono atribulado é a forma que o cérebro encontrou para se manter atento a eventuais perigos capazes de colocar nossa vida em risco.
Cientistas da Universidade Brown, nos Estados Unidos, resolveram investigar as razões por que muitas pessoas sem problemas de sono relatam dormir mal durante a primeira noite em hotéis ou camas com as quais não estão acostumadas. Usando técnicas de neuroimagem, os pesquisadores analisaram os cérebros de 35 indivíduos, em três experimentos diferentes.
No primeiro deles, 11 voluntários passaram duas noites no laboratório – que recebeu travesseiros e colchas para que o sono fosse o mais tranquilo possível. Na primeira noite, os indivíduos demoraram para pegar no sono e tiveram um sono leve e, enquanto isso, os cientistas mediram a atividade neuronal relacionada ao sono profundo (as chamadas ondas lentas).
Cérebro se mantém parcialmente desperto.
Descobriram que, em um dos hemisférios cerebrais, essas ondas são menos intensas – ou seja o cérebro está parcialmente “desperto”.
Durante as outras fases do estudo, os pesquisadores testaram esse “estado de alerta” do cérebro com sons e perceberam que o cérebro humano, assim como o de alguns animais marinhos e pássaros, é capaz de uma leve assimetria – um dos hemisférios fica apenas parcialmente “desligado”, em estado de alerta para monitorar possíveis perigos do ambiente desconhecido.
Mesmo não apresentando um nível compatível de assimetria das baleias, golfinhos ou aves migratórias (que conseguem se movimentar e dormir ao mesmo tempo), o cérebro humano também fica atento a possíveis ameaças dos lugares novos. “Quando estamos em um ambiente novo, o cérebro funciona como um vigilante noturno para nos proteger”, escrevem os autores no estudo.
Conforme os pesquisadores, essa atividade cerebral é um vestígio de uma habilidade que, provavelmente, protegeu o sono de nossos ancestrais dos predadores. Para driblar esse efeito, os cientistas sugerem levar o travesseiro em viagens, tornando o ambiente mais familiar e, se possível, chegar duas noites antes de eventos importantes em locais desconhecidos (como provas ou apresentações), para garantir uma boa noite de sono.