Do mais calmo dos sonhadores até o mais agitado puxador de cobertas, os adultos compartilham de uma mesma característica noturna, caracterizada por não cair do leito durante o sono. Você já deve ter percebido que não ficamos imóveis durante o descanso, roncando, nos aconchegando e até chutando. Por que, então, permanecemos no lugar e não caímos da cama?
A habilidade de não cair, inclusive, independe do tamanho do local onde dormimos: pode ser um colchão de ar para camping bem estreito ou uma cama king size das maiores. É muito raro mesmo acordarmos em um local diferente, dentro do leito, do qual adormecemos inicialmente. Isso acontece porque temos, mesmo adormecidos, consciência corporal, algo que podemos chamar, popularmente, de sexto sentido, mas tem um nome oficial – propriocepção.
O sexto sentido e o sono
Esse sentido é menos eficiente na infância, quando ainda estamos aprendendo a perceber o mundo, e é por isso que os pequenos costumam cair da cama com mais frequência do que adultos, mesmo que seja raro. Apesar da associação metafísica do sexto sentido na cultura popular, colocando habilidades de premonição e clarividência, seu conceito é bem científico, começando a ser estudado ainda no século XIX.
Ao longo dos séculos, fomos entendendo melhor a importância da propriocepção e, principalmente, nossa independência dela. Para ver ela funcionando ao vivo, faça um teste: feche os olhos e toque a ponta do seu cotovelo direito com o indicador esquerdo. Fácil não é? Como você sabia a posição dessas partes do corpo de olhos fechados? Propriocepção. Ela te permite, inclusive, saber e descrever a postura atual do corpo sem precisar enxergá-lo. Sabemos onde cada parte nossa está no espaço.
Essa percepção é permitida pelos sinais neurofisiológicos dos receptores que temos em tendões, articulações, pele e músculos, levando ao cérebro informações sobre a rotação das nossas articulações, comprimento e alongamento dos músculos, flexão da pele e quaisquer alterações locais. Assim, sabemos para onde cada parte do corpo está virada, para onde se movem as articulações, como está a postura e o equilíbrio.
Outros responsáveis
Quando perdemos o equilíbrio, a propriocepção é uma das responsáveis por nos ajudar a voltar para o balanço correto para não cair. O sistema vestibular, dos ouvidos, também está relacionado a isso, já que nos permite saber a inclinação do corpo, mesmo de olhos fechados. Ele também nos ajuda a saber a nossa aceleração no espaço, ligado, desta vez, à função dos olhos. Isso não ajuda a não cair da cama, no entanto, já que estamos de olhos fechados e inconscientes durante o sono.
Nos movemos menos durante o sono graças à atonia REM. Nessa fase do sono, o corpo aumenta a necessidade de estímulos para que movamos nossos membros, então é possível sonhar e interagir sem que os braços e pernas respondam, ou sairíamos andando todas as noites, o que só ocorre em casos de sonambulismo. Movimentos noturnos podem acontecer quando os estímulos são muito fortes, vencendo a atonia, mas não costumam passar de chutes fracos ou deslocamento leve dos membros.
O “GPS corporal” que a propriocepção nos dá ajuda tanto na nossa movimentação quanto na imobilização quando dormimos, ou seja, sabemos quando um braço ou perna está prestes a cair da cama, voltando a posicioná-los corretamente, mesmo sem perceber. Nosso cérebro está munido de muitas ferramentas para garantir nossa segurança, quer mandemos nelas conscientemente ou não – agradeça a ele na próxima vez que acordar no mesmo lugar que dormiu!