Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de fevereiro de 2024
O Banco Central tem sinalizado a importância de uma inflação mais controlada e de menos incertezas no quadro fiscal para a redução das taxas básicas do País.
Foto: Marcello Casal Jr./Agência BrasilO Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou na quarta-feira (31) mais um corte na taxa básica de juros. A Selic recuou de 11,75% para 11,25% ao ano, o que representa a quinta queda consecutiva.
A redução de 0,5 ponto percentual não foi novidade para os economistas do mercado financeiro. Desde agosto do ano passado, quando iniciou o ciclo de cortes de juros, o BC tem sido cauteloso e reduzido a Selic sem acelerar o ritmo, com cortes constantes.
As atenções estavam, mais uma vez, no tom do comunicado. O Banco Central também tem sinalizado constantemente a importância de uma inflação mais controlada e de menos incertezas no quadro fiscal para a redução das taxas básicas do País.
A taxa está no menor nível desde março de 2022, quando estava em 10,75% ao ano. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
Com o governo Lula sinalizando estar empenhado em buscar alternativas para aumentar a arrecadação e com uma inflação que conseguiu encerrar o ano passado dentro da meta pela primeira vez desde 2020, era possível esperar que o ritmo de redução dos juros aumentasse. Mas não.
Para o BC, a decisão desta semana considerou que o processo de desinflação continuou a evoluir no País, que a atividade econômica brasileira segue consistente com o cenário de desaceleração antecipado pelo Copom e que o ambiente externo continua a “exigir cautela por parte dos países emergentes”.
De acordo com especialistas, o quadro macroeconômico brasileiro dá sinais de melhora, mas “situações de risco” ainda impedem que o Copom acelere o ritmo de cortes da Selic. São elas:
a necessidade de ajustes no campo fiscal e de previsibilidade no longo prazo;
os riscos inflacionários no curto prazo;
as decisões do Fed e seus impactos no câmbio;
o preço das commodities.
Segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, falta um plano para o corte de gastos apesar de o governo federal ter buscado formas de aumentar a arrecadação, mirando o déficit zero — ou seja, que o governo consiga gastar o mesmo montante que arrecadar ao longo do ano.
“O governo tem trabalhado pelo aumento das receitas, mas ainda não apresentou nenhum plano para contenção de despesas. Então, esse ainda é um grande risco, mesmo que o cenário tenha melhorado diante da expectativa de um déficit menor para este ano”, diz Agostini.
Ele explica que não há uma medida estrutural de médio e longo prazo para controle dos gastos públicos, mesmo que o governo consiga cumprir a meta de déficit zero em 2024. Esse cenário, afirma Agostini, acaba afetando as decisões sobre a política monetária, que são pensadas para períodos mais distantes.
Outro ponto de atenção para o Banco Central brasileiro é o setor externo. Isso porque ainda há uma preocupação muito forte com o mercado de trabalho nos Estados Unidos, que segue bastante aquecido.
Em síntese, um mercado de trabalho mais aquecido significa salários mais altos e mais dinheiro em circulação, o que tende a pressionar a inflação, e, consequentemente, exigir uma política monetária mais restritiva por parte do Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano).
Na quarta, o Fed decidiu mais uma vez manter as taxas básicas de juros do país no intervalo de 5,25% e 5,50% ao ano, no maior patamar desde 2001. A decisão já era esperada pelo mercado e as atenções, mais uma vez, se voltaram para o comunicado divulgado pela instituição.
De acordo com o estrategista-chefe da Guide Investimentos, Alex Lima, a principal mensagem do BC norte-americano foi a sinalização de que o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) não deve começar a cortar os juros dos EUA até que a inflação do país esteja no nível de 2%, que a meta da instituição.
Conforme especialistas, os reflexos do câmbio são percebidos principalmente nos preços das commodities, mais um ponto de risco observado pelo Banco Central. Com o petróleo mais caro, por exemplo, há elevação do preço da gasolina e do diesel, e uma consequente elevação do custo do frete, gerando inflação sobre alimentos e outros produtos.