Chega agosto e não tem como esquecer. Os anúncios pipocam em jornais, revistas, internet, televisão e pontos de ônibus. O segundo domingo vai fechar e aí é hora de dar um presente ao pai – e reservar o dia para aquele almoço em família.
Mas quando foi que o Brasil inventou o Dia dos Pais? Por que comemorar no segundo domingo de agosto? Quem veio primeiro, o Dia dos Pais ou o Dia das Mães?
Para entender essa história, é melhor começar por esta última pergunta: o Dia dos Pais, no mundo contemporâneo, veio depois do Dia das Mães – uma comemoração se inspirou na outra, de certa forma. “A origem da comemoração é americana”, crava o psicólogo social Sérgio Silva Dantas, professor de marketing da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
No início do século 20, passou a se comemorar por lá o Dia das Mães, invenção da norte-americana Anna Maria Jarvis (1864-1948), enlutada pela morte da sua mãe. Então houve um desastre: em 6 de dezembro de 1907, uma mina de carvão explodiu em Monongah, Virginia Ocidental, nos Estados Unidos. Destes, 250 eram pais.
Foi uma imensa comoção na região. Em 5 de julho de 1908, na cidade vizinha de Fairmont, ocorreu a primeira celebração em honra aos pais, por iniciativa das famílias que haviam perdido os seus. A homenagem foi realizada na Igreja Metodista da cidade.
De acordo com informações da congregação, os esforços foram de uma senhora chamada Grace Golden Clayton. “Ela ficou perturbada ao pensar em todas aquelas crianças crescendo sem a figura paterna, e queria fazer algo para honrar a importância da paternidade”, informa texto preparado pela igreja para divulgar a história. “Ela pediu ao pastor que reservasse um dia especial para comemorar os pais – e escolheu o domingo mais próximo do aniversário de seu falecido pai, também pregador metodista.” Mas o evento não repercutiu fora dali.
Dois anos mais tarde, entretanto, um outro evento nascido na esfera religiosa se tornaria conhecido em todo o país. Filha de um fazendeiro veterano da guerra civil americana, Sonora Smart Dodd (1882-1978) ouvia um sermão de Dia das Mães na igreja e pensava em seu pai, William Jackson Smart (1842-1919). Sua mãe, Ellen Victoria Cheek Smart (1851-1898) havia morrido cedo e ele se viu criando os seis filhos sozinho. “Por que havia um dia em homenagem às mães mas nada para os pais?”, ela se perguntava.
“A mãe de Sonora havia morrido durante o parto do sexto filho e ele [William] criou os filhos sozinho. Isso motivou Sonora a homenagear o pai. A data escolhida foi o dia do aniversário dele, 19 de junho”, explica professor Dantas. A primeira festa dedicada aos pais ocorreu na sede da Associação Cristã de Moços de Spokane, no Estado de Washington.
Nos anos seguintes, ideias semelhantes foram se espalhando. Em 1911, a socióloga e ativista Jane Addams (1860-1935) propôs uma comemoração do tipo em Chicago – contudo, não conseguiu implementar. Na cidade de Vancouver, também no Estado de Washington, houve uma celebração organizada por um pastor metodista em 1912. E, a partir de 1915, a organização Lions Clubs International passou a realizar festividades do gênero também.
Foi longo o percurso para que a data fosse reconhecida como oficial. A novela chegaria ao fim em 1966, quando o presidente Lyndon Baines Johnson (1908-1973) designou o terceiro domingo de junho para a comemoração do Dia dos Pais. Na gestão de Richard Nixon (1913-1994), em 1972, foi assinada a lei que tornou a data um feriado nacional permanente.
No Brasil
Se no Brasil o Dia das Mães já existia, oficialmente, desde 1932, foi só nos anos 1950 que a ideia de reservar uma data aos pais ganhou força. E a motivação, desde o princípio, foi comercial. “Aqui a data já nasceu com fins comerciais, uma vez que foi uma ideia do publicitário Sylvio Behring, que era diretor do jornal e da rádio Globo e queria atrair anunciantes”, conta o professor Sérgio Dantas. Behring comandou a primeira equipe do Departamento de Arte e Propaganda da empresa.
A primeira comemoração foi no dia 16 de agosto. Durante muito tempo, a data foi utilizada no catolicismo para celebrar o dia de São Joaquim – segundo a Bíblia, pai de Maria, portanto, avô de Jesus Cristo. Atualmente, São Joaquim é lembrado, ao lado de sua mulher, Santa Ana, em 26 de julho – Dia dos Avós.
“[A escolha foi porque] São Joaquim é considerado pela Igreja Católica como o patriarca da família”, explica Dantas. “Mais tarde a data foi transferida para o segundo domingo de agosto.” De acordo com o Dicionário Histórico Biográfico da Propaganda no Brasil, a ideia rendeu a Behring o reconhecimento como Publicitário do Ano, pelos seus pares.
Conforme conta o economista Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo, a data se firmou mesmo no calendário do comércio apenas duas décadas mais tarde. “Somente se firmou comercialmente a partir dos anos 1970, quando o Dia das Mães já estava consolidado”, afirma ele.