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Mundo Saiba por que o fim de combustível é tão dramático para o cotidiano dos moradores da Faixa de Gaza

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Além de ser usado como fonte de energia em hospitais e padarias, ele também abastece equipamentos para dessalinização da água do mar. (Foto: Reprodução de vídeo)

Quase sem combustível para alimentar os geradores de energia, os poucos hospitais em funcionamento da Faixa de Gaza correm o risco de desligar máquinas vitais para pacientes e fechar de vez as portas. Abrigos com dezenas de milhares de famílias estão apagando as luzes e, segundo a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), há apenas duas centrais com gasolina suficiente para produzir pão e — elas deixariam de funcionar no fim dessa sexta-feira (27).

Israel cortou todo o fornecimento de alimentos, água, combustível e eletricidade à Faixa de Gaza em resposta aos ataques do dia 7 de outubro do grupo terrorista Hamas, que mataram 1,4 mil israelenses. Desde então, o governo de Benjamin Netanyahu só permitiu a entrega de pequenas quantidades de ajuda humanitária a Gaza, mas bloqueou a entrada de qualquer combustível, alegando que ele seria explorado pelo Hamas para fabricar armas e explosivos.

A eletricidade era escassa em Gaza mesmo antes da guerra: cerca de um terço do fornecimento vinha de uma usina que funcionava com diesel industrial importado de Israel, enquanto o restante vinha de linhas de eletricidade que se estendiam de Israel, de acordo com a Gisha, uma organização sem fins lucrativos. Agora, grupos de ajuda humanitária e de defesa dos direitos humanos alertam para um apagão total.

Segundo a NetBlocks, organização não governamental que monitora o acesso à internet ao redor do mundo, a conexão da Palestine Telecommunications Company (Paltel), única empresa de telecomunicação que ainda conseguia operar na Faixa de Gaza, colapsou de vez nesta sexta-feira.

Também nessa sexta, a UNRWA disse que os serviços básicos estavam “ruindo”.

“Sem combustível, não haverá água, nem hospitais e padarias funcionando. Sem combustível, a ajuda não chegará às pessoas que mais necessitam. Sem combustível, não haverá assistência humanitária”, afirmou Philippe Lazzarini, alto-comissário da UNRWA.

Na semana passada, o Exército de Israel apelou às pessoas do norte da Faixa de Gaza — quase metade dos seus 2,4 milhões de habitantes — para se retirarem para o sul antes da ofensiva terrestre. Muitos, no entanto, não podem ou não conseguem sair. No total, quase 1,4 milhão de pessoas foram deslocadas, embora cerca de 30 mil tenham retornado para a região nos últimos dias, segundo a ONU, que afirma que ainda há pelo menos 200 mil pessoas vivendo na região.

Agora, a porta-voz da UNRWA alerta que a agência precisa urgentemente de combustível para continuar ajudando 629 mil pessoas deslocadas que se refugiam nas suas instalações.

“Somos a maior organização humanitária e estamos prestes a interromper as operações. Estamos sendo proibidos de cumprir o trabalho que nos foi confiado pela Assembleia-Geral da ONU”, disse Juliette Touma, que estima que Gaza precisa de pelo menos 160 mil litros de combustível por dia para necessidades básicas.

Guerra de versões
No maior hospital de Gaza, al-Shifa, as luzes dos corredores e das áreas não clínicas já foram desligadas. Ghassan Abu Sittah, cirurgião dos Médicos Sem Fronteiras que trabalha no local, estima que cerca de um terço dos cerca de 1,6 mil pacientes morreriam caso o gerador fosse desligado de vez.

“Os únicos locais que funcionam 24 horas por dia são as salas de operações e as unidades de cuidados intensivos”, afirmou. “Para aqueles que estão nos cuidados intensivos e aqueles que necessitam de cirurgias não há qualquer plano.”

O porta-voz do Ministério da Saúde em Gaza, Ashraf al-Qidra, por sua vez, alertou que a ausência de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatal poderia levar a morte de recém-nascidos em questão de minutos.

A batalha de versões entre Israel e o Hamas também chegou aos hospitais: depois de acusar o Hamas de esconder combustíveis para sufocar a população que vive no enclave, nessa sexta, o Exército israelense disse que o grupo terrorista usava os hospitais da Faixa de Gaza como centros de comando. No X, antigo Twitter, o premier Benjamin Netanyahu compartilhou um vídeo de Inteligência mostrando como os terroristas “transformam hospitais em quartéis-generais para o seu terror”.

“O Hamas trava a guerra a partir dos hospitais”, disse o porta-voz das Forças Armadas israelenses, Daniel Hagari, acrescentando que a organização desviou combustível dos hospitais para sua própria “infraestrutura terrorista”. “Os terroristas circulam livremente no hospital al-Shifa [o maior do enclave].”

Além de ser usado como fonte de energia em hospitais e padarias, o combustível também abastece equipamentos para dessalinização da água do mar. O transporte também foi interrompido na maioria das áreas devido à falta de combustível — além da insegurança e das estradas bloqueadas por escombros. Por isso, também existe o risco de faltar água no território.

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