Facilidade do idioma, mensalidades acessíveis e a experiência de viver na Europa são algumas das razões que fazem com que 80% dos jovens das classes A e B do País queiram estudar em Portugal. Mesmo com o número crescente de episódios de xenofobia contra brasileiros, o interesse pelo destino tem crescido nos últimos anos, segundo especialistas.
Pesquisa realizada pelo Instituto Semesp e pelo MK Estatística ouviu jovens de 15 a 25 anos de todo o País e mostrou que o maior interesse é fazer graduação, 70% deles. A área mais citada foi a Tecnologia da Informação.
O levantamento foi feito a pedido do Istituto Europeo di Design (IED), instituição italiana, com unidades no Brasil, Itália e Espanha. A faculdade pretende abrir em 2025 uma nova unidade no Porto, em Portugal, mas totalmente voltada para o mercado brasileiro.
O instituto tem cursos nas áreas de Design, Moda, Arte e Arquitetura. “Nosso foco é prospectar alunos aqui, fazer a seleção, para que os brasileiros possam estudar lá”, diz o diretor geral do IED no Brasil, Gianfranco Pisaneschi.
Uma das razões é que os europeus pouco optam por instituições privadas, como o IED, porque há diversas opções de universidades públicas com baixas taxas na Europa. Mas, para os brasileiros, o valor é muitas vezes mais acessível do que o cobrado por cursos de excelência também pagos no País.
Xenofobia
Há em Portugal cerca de 400 mil brasileiros, isso sem contar os que têm cidadania europeia, número que cresce a cada ano. Entre 2021 a 2022, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial de Portugal reportou alta de 505% nas denúncias de xenofobia contra brasileiros.
A Daqui pra Fora, empresa especializada em consultoria para brasileiros que querem estudar o exterior, sequer trabalhava com universidades portuguesas há três anos. Atualmente, o interesse pelo país aumentou especialmente em áreas de Humanas, diz o head de operações Philippe Silveira.
“Mesmo que as universidades portuguesas não estejam no top 50 do mundo, há a possibilidade de usar o Enem e ainda o custo benefício é muito bom comparado com as americanas”, afirma.
Além disso, diz Silveira, a experiência de passar um tempo fora, conhecer várias culturas e gente do mundo todo é muito valorizada. “Academicamente não ganha muito em relação a universidades brasileiras, mas tem todo esse contexto. O ‘fora de sala de aula’, para alguns, pesa mais.”
Para Rodrigo Capelato, do Instituto Semesp, que reúne universidades privadas brasileiras, o país europeu é um concorrente competitivo para as instituições daqui também porque as famílias se preocupam com a falta de segurança no Brasil.
“Muitos da classe média têm o sonho de ver os filhos estudando nos EUA, mas Portugal é um destino mais factível”, afirma. “Portugal ainda tem o envelhecimento da população, precisa de jovens, tem universidades com vagas sobrando.”
“Para quem não consegue entrar nas grandes universidades dos EUA, a Europa tem a vantagem de oferecer ótimas cidades para morar. A família acaba pagando o mesmo para que o filho ficar no Porto, em Madri, ou viver em Kentucky, Illinois (EUA)”, acrescenta.