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Por Redação O Sul | 17 de novembro de 2017
Vendido num leilão em Nova York (EUA), na última quarta-feira (15) à noite por US$ 450,3 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão), o quadro “Salvator Mundi” – pintado por Leonardo da Vinci por volta de 1500 – tornou-se a obra mais cara da História. É o tipo de negócio que sempre deixa no ar duas questão. Uma: por que um quadro desses é tão caro? Duas: quem tem interesse em desembolsar tanto dinheiro por arte?
De imediato, sabemos que Da Vinci é uma grife cara e que o personagem retratado sempre recebe bons lances.
“ ‘Salvator Mundi’ é uma pintura da figura mais icônica do mundo (Jesus Cristo) feita pelo mais importante artista de todos os tempo”, resumiu Loic Gouzer, executivo da casa de leilão Christie’s.
Para quem tem dinheiro em caixa, portanto, eis aí motivos suficientes para levar o quadro para casa. Diretor da Pinakotheke, que atua no mercado de artes desde1965, o curador Max Perlingeiro lembra de outra razão aparentemente simples para a compra: o desejo. Se você deseja – e poder de comprar – então compre.
“O desejo é o imponderável. Da Vinci é um artista desejado. (O bilionário da tecnologia) Bill Gates, por exemplo, tem uma coleção de manuscritos dele”, sugere.
Seria uma boa aposta.
Gates é famoso por seus investimentos no mercado de arte. Em 1994, por exemplo, desembolsou US$ 308 milhões por um dos cadernos de Da Vinci, o “Codex Leicester”, com 72 páginas contendo anotações, desenhos e diagramas. Mas Gates tem fortes concorrentes nesse mercado, o que se vê pelo salto significativo no valor do quadro, que teria sido pintado sob encomenda pelo rei Luís XII, da França.
“A negociação de quarta-feira modifica completamente o patamar das artes”, atenta Luiz Sève, dono da Galeria Ipanema, a mais antiga em atividade no Brasil. “Existe uma tendência mundial de coisas excepcionais terem preços excepcionais. Além disso, os museus viraram símbolos de status. E todo museu tem que ter obras-primas. Tanto que uma das especulações dá conta de que a compradora de ‘Salvator Mundi’ seria a filha de um antigo emir do Qatar, pois eles precisam enriquecer ainda mais os novos museus de lá.”
Sève se refere a Al-mayasa Al-Thani, presidente da Autoridade Museológica do Qatar e considerada a pessoa mais influente do mercado de arte pela revista “ArtReview” em 2013.
E os novos ricos chineses também poderiam estar no páreo. Em 2015, por exemplo, o bilionário Liu Yiqian, fundador do Long Museum, em Xangai, pagou US$ 170 milhões por um Modigliani.
Especulações à parte, Sève e Perlingeiro acreditam que o comprador ainda deve ficar incógnito por algum tempo, até por segurança.
“Leilão tem todo dia, mas este foi o mais importante de todos os tempos”, avalia Sève.
Até quarta-feira, “Salvator Mundi” fazia parte da coleção do bilionário russo Dmitry Rybolovlev, que em 2013 pagou US$ 127,5 milhões ao marchand suíço Yves Bouvier.
O negócio fabuloso fechado em Nova York esta semana deixou bem para trás os US$ 300 milhões pagos em 2015 pelo quadro “Interchange”, de Willem de Kooning, que estava no topo das obras mais caras do mundo. O valor surpreendeu até os organizadores do leilão, que haviam estipulado preço inicial da obra em US$ 70 milhões.
Mas a lei da oferta e da procura se fez presente: “Se a obra foi arrematada por US$ 450 milhões, alguém ofereceu US$ 449 milhões antes”, lembra Perlingeiro.
Curioso que há poucos meses, “Salvator Mundi” tenha tido sua autenticidade contestada pelo americano Walter Isaacson, respeitado biógrafo de Da Vinci.
“Mas o reconhecimento da obra, apesar de tardio, foi bem postulado”, diz Perlingeiro. “E isso não tem contestação.”
Para o especialista, “Salvator Mundi” nem seria, aliás, uma das melhores obras de Da Vinci, embora o renascentista tenha pintado poucos quadros ao longo de seus 67 anos de vida:
“É uma tela convencional de Da Vinci. Mas tudo colabora para que a subida de preço: além do desejo, há que se considerar que se trata de uma raridade, já que ele pintou muito pouco, há muitos anos não acontecia um pregão com um quadro dele e talvez seja a última grande obra do artista em mãos particulares a ser vendida, pois a maioria está em museus e grandes instituições, que não costumam negociá-las.”