Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 13 de maio de 2016
Caminha a passos largos no Congresso Nacional a aprovação de um projeto de lei que pretende autorizar a produção e comercialização, em grande escala, de veículos leves movidos a diesel (PL 1013/2011).
É intrigante observar a movimentação em torno desse projeto. Seja em função dos danos à saúde, passando pela poluição do meio ambiente e pelos impactos econômicos decorrentes da importação de diesel, a aprovação do projeto representará um retrocesso para o desenvolvimento sustentável do País. É essencial lembrar que os motores a diesel são as principais fontes de emissão de partículas finas e de óxidos de nitrogênio, que são altamente prejudiciais à saúde, uma vez que penetram facilmente no sistema respiratório, causando graves doenças.
Em 2013, a Organização Mundial da Saúde classificou as partículas finas do diesel como substâncias que podem contribuir para a ocorrência de câncer. Além disso, os óxidos de nitrogênio causam inflamações respiratórias e reagem com outros poluentes na atmosfera, formando substâncias como o ozônio e nitratos, que são danosos ao meio ambiente e a saúde.
Saúde.
Estudos internacionais atribuem às partículas finas do diesel cerca de 3% dos óbitos globais causados por doenças cardiovasculares, 5% dos cânceres de pulmão e 3% das mortes em crianças até 5 anos de idade, totalizando cerca de 800 mil óbitos prematuros e 6,4 milhões de anos de vida perdidos por morte.
Não bastassem os danos à saúde, o diesel é altamente emissor de gases de efeito estufa, especialmente óxido nitroso, que tem alto poder de aquecimento global. Como o diesel é restrito aos caminhões, ônibus, tratores e transporte marítimo, as emissões decorrem da produção e refino do petróleo e do uso do diesel, categorizadas no setor de energia. Mas a liberação dos veículos leves a diesel deverá aumentar as emissões do subsetor de transportes, o que contraria as metas brasileiras de mitigação.
Meio Ambiente.
Reduzir emissões no setor de transportes é um desafio global, e o Brasil tem um diferencial enorme ao ter construído uma matriz de transporte de veículos leves a base de etanol, que reduz em até 90% as emissões comparadas à gasolina.
A despeito do conteúdo energético do diesel, que poderia ser um argumento favorável ao projeto, os custos para reduzir emissões do diesel são caríssimos. Na União Europeia e nos Estados Unidos, fraudes nos sistemas de monitoramento de emissões no diesel motivam mudanças severas nas regulamentações sobre veículos leves a diesel.
Estudo publicado em 2015 pela King’s College de Londres estima que a poluição do ar por partículas finas e óxidos de nitrogênio do diesel resulta em cerca de 9,5 mil mortes prematuras por ano e custos para a saúde de pelo menos 1,4 bilhão de libras (cerca de 2 bilhões de reais) na capital inglesa.
Padrão tecnológico defasado.
Limpar a matriz energética e investir nos biocombustíveis são metas do Brasil perante o Acordo de Paris, assinado em abril. Fomentar a criação de uma frota de veículos leves a diesel não parece ser uma estratégia de reduzir emissões no setor de transportes.
Enquanto a União Europeia e os Estados Unidos apertam suas regras sobre o uso de diesel nos veículos leves e estimulam a adoção de carros elétricos e híbridos, o Congresso está na iminência de liberar carros leves a diesel.
Caso os carros a diesel sejam aprovados, o Brasil será um comprador e disseminador de tecnologias que estão com os dias contados nos países que buscam trilhar o desenvolvimento de baixo carbono no setor de transportes.
É uma escolha: ou consumimos um padrão tecnológico defasado, impondo custos sociais e ambientais altíssimos, ou investimos em tecnologias como o etanol, e suas novas gerações, associado aos carros elétricos e híbridos e à geração de bioeletricidade. Está nas mãos do Congresso Nacional escolher qual rumo seguir. (Folhapress e AG)