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Por Redação O Sul | 30 de junho de 2020
Apesar de dividir fronteira com o Brasil, epicentro do novo coronavírus no continente, o Uruguai não tem mais do que 100 casos da Covid-19 há quase um mês. Ao todo, foram relatados apenas 932 casos confirmados da doença desde o início da pandemia e 27 mortes. Ao lado, a Argentina teve mais de mais de 60 mil casos. E no Brasil, as infecções totalizam, até o momento, surpreendentes 1,402.041.
Na última segunda-feira (29), o Uruguai se tornou um dos primeiros países das Américas a retornar as aulas presenciais, com as escolas reabrindo em Montevidéu. A medida faz parte de uma retomada em fases da economia, de canteiros de obras a shoppings, que começou no final de abril. Eventos públicos como apresentações de teatro também estão devem recomeçar em breve.
A razão pela qual o país parece ter evitado o caos do coronavírus que envolve seus vizinhos pode ter tanto a ver com ações de anos anteriores como agora.
Rápido para agir
O presidente Luis Lacalle Pou foi mais rápido em agir do que seus pares regionais, movendo-se para fechar fronteiras e implementando uma quarentena voluntária menos de um mês depois de assumir o cargo em 1º de março (Brasil e México, as potências da América Latina por tamanho e população, nunca fizeram quarentenas nacionais). Mas os uruguaios também desfrutam de uma rede de proteção social robusta, graças aos gastos generosos com assistência médica, aposentadoria e programas sociais durante os 15 anos anteriores de governos de esquerda.
“É muito provável que o Uruguai mantenha uma evolução favorável por causa da coerência em como aplicar medidas para conter a doença”, disse Giovanni Escalante, representante local da Organização Mundial da Saúde.
Em 2018, o Uruguai ficou em segundo lugar no continente em gastos sociais, com mais de 17% de seu Produto Interno Bruto, de acordo com os dados mais recentes da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe. Foi também o país com uma das taxas mais baixas de pobreza no ano passado (8,8%), em comparação com quase 30% em toda a América Latina.
O distanciamento social na nação escassamente povoada também pode ter tido um papel importante para manter o vírus sob controle. O Uruguai tem uma população de 3,5 milhões de pessoas.
Escolas reabrem
A maioria das mais de 2.700 escolas públicas de ensino fundamental e médio, que atendem a quase 700 mil estudantes, estão agora retomando as aulas em um processo gradual, iniciado com as escolas rurais no final de abril. O uso de máscaras faciais é obrigatório, e as classes costumam ter metade do tamanho da época pré-Covid. Os alunos se alternam entre aulas presenciais e pela internet. Os pais também podem optar por não enviar seus filhos para a escola por enquanto.
Mas, mesmo com melhor infraestrutura e baixas taxas de infecção, os casos ativos aumentaram de 12, em 18 de junho, para 83, no último domingo (28), devido a um surto na província de Treinta e Três, que faz fronteira com o Brasil – nesse local, as escolas permanecem fechadas.
Escalante, o representante local da OMS, alerta que o Uruguai provavelmente verá mais surtos localizados – entre os profissionais de saúde e em cidades ao longo da fronteira brasileira, por exemplo –, embora a resposta a aglomerações seja encorajadora.