Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de agosto de 2024
Apesar de a tragédia envolvendo o avião da Voepass em São Paulo, que deixou 62 mortos na sexta-feira (9), ocorrer no “no momento mais seguro da aviação no mundo”, a notícia por si só deixa futuros passageiros apreensivos e buscando por respostas.
As investigações sobre o pior acidente aéreo no Brasil desde 2007 ainda estão em fase inicial e, segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), “tudo ainda é prematuro”.
Logo após a queda do avião em Vinhedo (SP) e diante de especulações nas redes sociais, especialistas em segurança de voo apontaram que a formação de gelo sobre as asas pode ser uma das hipóteses a ser investigada como causa do acidente.
Segundo analistas, essa é uma ocorrência rara, especialmente porque a maioria das aeronaves possui sistemas eficazes para evitar que o acúmulo de água congelada afete a capacidade de sustentação.
A aeronáutica informou que as caixas-pretas da aeronave – que guardam os registros do voo – já estão em Brasília para averiguação.
Mas, num cenário mais amplo da aviação global, o que ainda tem causado os acidentes com vítimas fatais no mundo?
A Boeing, uma das maiores fabricantes de aeronaves, publica regularmente um relatório global a respeito dos acidentes envolvendo aviões a jato comerciais – o que não é o caso especifico do avião da Voepass, um ATR turboélice.
Os jatos, em geral, são os aviões que transportam mais passageiros e fazem as viagens de distâncias mais longas.
Entre 2013 e 2022, segundo a Boeing, o maior número de mortes aconteceu em acidentes causados por “perda de controle em voo” (757) , “falha ou mau funcionamento do sistema, não relacionado ao motor” (158), “saídas da pista na decolagem ou pouso” (134) e por problemas “relacionados ao combustível” (71).
“No caso da perda de controle, por exemplo, pode acontecer por uma infinidade de razões, seja humana ou não. A gente tem que entender que é multifatorial e há múltiplas possibilidades”, diz Maurício Pontes, investigador de acidentes aeronáuticos e assessor executivo da Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil (Abrapac).
Pontes usa como exemplo um recente incidente com um voo da Latam entre Sydney (Austrália) e Santiago (Chile), que deixou 13 feridos após a aeronave ter uma perda brusca de altitude.
Investigações mostraram que o esbarrão de uma aeromoça num botão mal posicionado no assento do piloto pode ter acionado os controles que lançaram o nariz do avião para baixo. Ou seja, uma falha “humana”, mas também dos equipamentos da aeronave.
A Flight Safety Foundation, organização sem fins lucrativos com foco em discussões sobre segurança de acidentes aéreos, também mantém um banco de dados a respeito de quedas e incidentes com aeronaves no mundo.
Entre os acidentes envolvendo vítimas fatais em aeronaves comerciais e jatos corporativos, as causas mais comuns entre 2017 e 2023 foram “perda de controle em voo”, o “voo controlado contra o terreno” (quando uma aeronave em condições de voo e sob controle total do piloto é conduzida para a terra ou água), “causas desconhecidas” e “saída da pista, na decolagem ou pouso”.
Mas o que leva a esses problemas mais comuns? Justamente por serem investigações complexas e “multifatoriais”, é difícil se chegar uma conclusão, segundo especialistas consultados pela BBC News Brasil.
Mas o banco de dados online Plane Crash Info, que, apesar de não ser oficial, reúne algumas estatísticas sobre acidentes aéreos no mundo, aponta a falha humana como responsável por 49% dos seus registros entre 1950 e 2019. Em seguida, vem a falha mecânica (23%) e fatores climáticos (10%).
Fator humano
Em artigo no site The Conversation, Simon Ashley Bennett, diretor da Unidade de Segurança e Proteção Civil da Universidade de Leicester, no Reino Unido, aponta que “à medida que as aeronaves se tornaram mais confiáveis, e modernas, a proporção de acidentes causados por erro do piloto aumentou”. Atenção para a palavra “proporção”, já que o número de acidentes de uma forma geral tem diminuído.
“As aeronaves são máquinas complexas que requerem muita gestão. Como os pilotos interagem ativamente com a aeronave em cada fase de um voo, há inúmeras oportunidades para algo dar errado”, escreveu Bennett no artigo.
Fator mecânico
As falhas nos equipamentos da aeronave também podem representar parte importante dos acidentes.
“Embora os motores sejam significativamente mais confiáveis hoje do que há meio século, eles ainda ocasionalmente sofrem falhas “, escreveu Simon Ashley Bennett.
Recentemente, a Boeing vem enfrentando problemas a respeito do modelo 737 Max, após acidentes fatais e o caso de um avião da Alaska Airlines, que perdeu parte da fuselagem em pleno voo.
Fator clima
O mau tempo representava em 2015 cerca de 10% das perdas de aeronaves, segundo o artigo de Simon Ashley Bennett . Apesar de uma abundância de auxílios eletrônicos, como navegação por satélite e dados meteorológicos, as aeronaves ainda enfrentam problemas em tempestades, neve e neblina.
Celso Faria de Souza, da Abravoo, reforça que a questão climática entra como um desafio para a indústria na “combinação de fatores” que pode contribuir com acidentes.
Ele cita o exemplo do voo AF447, da Air France, que caiu na viagem entre Rio e Paris, em que os sensores de velocidade (as sondas Pitot) congelaram.
“O avião teria atravessado a condição severa de tempo, porém perdeu o Pitot e desorientou. Foi um problema no equipamento, mas o fator climático contribuiu para o acidente”, diz Souza. As informações são da BBC News Brasil.