Desde que a prescrição da flibanserina, conhecida como “Viagra feminino”, foi liberada nos Estados Unidos, no mês passado, mulheres de todo o mundo renovaram as esperanças de, enfim, poder contar com um medicamento para tratar a disfunção sexual. Porém, há diferenças fundamentais entre o Addyi, nome comercial da pílula rosa, e o Viagra, medicamento que trata da disfunção erétil masculina.
O Addyi é o primeiro medicamento desenvolvido para combater problemas da sexualidade feminina – embora, originalmente, tenha sido concebido como um antidepressivo. Segundo o ginecologista Marcos Arcader, o objetivo da droga é proporcionar bem-estar geral à paciente, de forma que ela fique apta a se excitar e sentir prazer.
“Não é qualquer mulher que terá indicação para usar esse remédio. É preciso que ela seja bem avaliada para que se exclua patologias que podem estar impedindo a libido, como endometriose, inflamações, malformações que causam dor na relação e ressecamento vaginal”, afirmou.
De acordo com a psiquiatra Carmita Abdo, como a flibanserina combate a falta de desejo, ambos os sexos podem utilizá-la. No entanto, o medicamento vem sendo direcionado às mulheres porque tal problema é mais comum entre elas: pesquisas realizadas pela médica mostram que a ausência de libido está presente em até 10% da população feminina, contra até 3% dos homens.
“O comportamento sexual das mulheres é multifatorial e depende de aspectos físicos, psicológicos, culturais e sociais”, ponderou a psiquiatra.
Ao contrário do Viagra masculino, que trabalha com a impotência masculina, a “pílula rosa” funciona equilibrando neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina no cérebro da paciente, para tratar a perda do interesse sexual. Outra diferença é que a pílula azul deve ser tomada cerca de uma hora antes da relação sexual. “É necessário um estímulo do desejo para haver a dilatação dos vasos sanguíneos, pois é uma ação orgânica”, explicou Natália Castro, ginecologista e obstetra.
Já a mulher tem vinculado o desejo sexual a outros organismos. E o cérebro é o principal deles. Sendo assim, o remédio para elas não pode ser tomado antes do ato sexual. “Deve-se manter um uso contínuo para que assim possa agir direto no hipotálamo, área cerebral responsável pelas nossas emoções. O remédio age como um antidepressivo”, disse a médica.
Entre os possíveis efeitos colaterais da flibanserina, segundo especialistas, estão náuseas, tontura, sonolência e queda da pressão arterial. No Viagra, o homem pode ter dores musculares, dor de cabeça, sangramento no nariz e até diarreia.
Durante um estudo sobre o Addyi, mulheres que tomaram a medicação relataram ter tido cinco relações sexuais por mês, contra 4,2 atos por mês entre as que estavam tomando um placebo. Já com os homens, 74% dos que receberam sildenafil (princípio ativo do Viagra) relataram melhora da impotência, contra 27% dos que tomaram apenas placebo.
Venda.
A venda do Addyi nos Estados Unidos começa em outubro. No Brasil, a data é incerta. O Viagra demorou dois meses entre a liberação da droga e a chegada às farmácias brasileiras.