Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de outubro de 2024
Foram quase 40 dias indisponíveis no Brasil, mas o X, antigo Twitter, está voltando. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou nessa terça-feira (8), o retorno imediato da rede social – o bloqueio havia ocorrido após a empresa insistir em não obedecer às decisões judiciais no País. O movimento, claro, fez muitos usuários procurarem plataformas alternativas, como o Threads e o Bluesky. Agora, com a empresa regularizada, surgem uma série de questões sobre o seu futuro no Brasil.
A liberação do serviço de Elon Musk aconteceu depois que o X indicou oficialmente um representante da empresa no País, suspendeu contas que disseminavam conteúdos de ódio e desinformação e pagou R$ 28,6 milhões em multas. Mas isso não significa que os problemas do X com a Justiça brasileira chegaram ao fim – o futuro promete outros embates.
Para Bruna Martins, do Grupo Consultivo Multissetorial do Fórum de Governança da Internet das Nações Unidas, será necessário observar se o X vai, primeiramente, manter seu representante no Brasil após o restabelecimento da rede social no País.
“Se tem uma coisa que o próprio X não demonstrou nos últimos anos foi alguma espécie de consistência com relação a essa relação entre autoridades e a própria plataforma. Por mais que seja positivo esse momento de uma possível indicação de representante jurídico no País, vale esperar e observar quais serão os próximos movimentos. Só a indicação de um representante jurídico no País não basta”, afirma a especialista.
O futuro do X no Brasil também pode carregar resquícios do embate entre Musk e Alexandre de Moraes, já que o bilionário já indicou que nem sempre vai continuar colaborando com a Justiça brasileira.
Na decisão de Moraes que resultou no bloqueio do X, por exemplo, havia o pedido de suspensão dos perfis do senador Marcos do Val (Podemos), do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos e do youtuber Monark, por ataques ao judiciário brasileiro, desinformação e discurso de ódio. No caso de Allan dos Santos, seu perfil já tinha sido bloqueado, pelo menos, uma outra vez, em 2021, também por ordem do ministro do Supremo, e acabou desbloqueado por Musk.
“Ainda que o STF possa ter esse embate com o X, é difícil que personagens como esses [suspensos da plataforma] parem de tomar os condutos que eles estão tomando. Então, esse é um conflito que vai continuar na plataforma. A questão é: qual vai ser a postura do X com o ressurgimento desse conflito?”, afirma Guilherme Klafke, aponta o professor do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP.
Isso deve significar que a relação entre a rede social e o País pode se dar caso a caso, com resoluções de problemas sendo tratados individualmente – a depender de ordens judiciais específicas para retirar conteúdos da plataforma ou remover usuários, por exemplo.
Ainda assim, qualquer relação futura coloca o STF em uma posição de força perante os caprichos de Musk. O Brasil, como um mercado grande e relevante para redes sociais, tem impacto na plataforma e pode ter, inclusive, gerado pressão dos investidores e anunciantes da rede social.
O movimento também colocou o País mais próximo de decisões da União Europeia, que tem uma lei específica e forte para regular o comportamento de redes sociais dentro dos países do bloco.
“Para a Justiça brasileira, isso é uma vitória, porque você demonstra a força das medidas do Judiciário contra uma empresa que abertamente desafiou as decisões judiciais. O Brasil tem muitas ferramentas jurídicas que permitem dar dor de cabeça para o X e para o Elon Musk”, diz Klafke.
Usuários
Outra grande sombra sobre a rede é se os usuários vão voltar – rede social, afinal, é hábito e o X saiu da rotina brasileira por mais de X mês. Durante o período de bloqueio, as pessoas se distribuíram entre o Bluesky, que atingiu 10 milhões de usuários, e o Threads, que não teve números divulgados sobre a migração brasileira.
Ainda assim, especialistas dizem que o conjunto de ferramentas do X e as comunidades já estabelecidas – tanto nos nichos quanto na interação com outros países – deve fazer com que haja um movimento de retorno em massa à plataforma de Musk.
Ferramentas como vídeos no feed e trending topics são parte importante da comunidade de microblog e podem ter um papel importante na atração – nem mesmo a ausência de moderação deve frear isso. Mais importante: a possibilidade de monetização de conteúdo deve levar de volta influenciadores e seus seguidores.
Isso porque nenhuma das plataformas substitutas do X possuem essas ferramentas. O Threads, como uma extensão de texto do Instagram, concentra a monetização de usuários na rede de fotos e o Bluesky ainda não possui a funcionalidade. No Brasil, existem 10,5 milhões de influenciadores, segundo a Nielsen. Muitos têm carreira estabelecida no X.