Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de dezembro de 2024
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, decretou lei marcial nessa terça-feira (3), sob o pretexto de proteger o país das “forças comunistas”, mas em meio a uma forte disputa com a oposição no Parlamento. Horas depois, ele anunciou a suspensão do decreto de lei marcial após deputados da Assembleia Nacional votarem para banir a medida. Yoon também se reuniu com o gabinete governamental, que concordou em derrubar o decreto.
Após anunciar que estava revogando a medida, Yoon afirmou que ordenou que as forças militares recuassem e voltou a criticar deputados opositores.
“Peço, entretanto, que a Assembleia Nacional interrompa imediatamente o comportamento ultrajante que está paralisando o funcionamento do país por meio de impeachments, manipulações legislativas e orçamentárias.”
O decreto da lei pegou os sul-coreanos de surpresa e provocou uma série de reações negativas, inclusive dentro do próprio governo.
Ex-promotor e outsider político, Yoon ficou conhecido como “campeão das gafes” durante a campanha presidencial, em 2022.
Eleito em uma votação decidida por menos de um ponto percentual de diferença, Yoon contou, desde o início do mandato, com uma oposição ferrenha do Partido Democrático, que barrou muitas de duas iniciativas parlamentares — após as eleições de abril, quando os oposicionistas mantiveram a maioria na Casa, o presidente passou a ser apelidado de “pato manco”, um político que ainda tem tempo de mandato à frente mas que tem poucos poderes na mão.
Além da falta de resultados de governo, Yoon, que na campanha ficou conhecido como um “campeão das gafes”, enfrentou uma quantidade considerável de escândalos e polêmicas.
Em outubro de 2022, meses depois de tomar posse, 159 pessoas morreram pisoteadas no popular bairro de Itaewon, em Seul, durante uma comemoração do Dia das Bruxas. Seu governo foi acusado de não fazer o suficiente para apoiar as famílias das vítimas, e em janeiro deste ano ele vetou uma lei que autorizava uma nova investigação da tragédia.
Em fevereiro do ano passado, o Parlamento aprovou o impeachment do então ministro do Interior, Lee Sang-min, afirmando que ele deveria assumir a responsabilidade pelas mortes, mas a decisão foi revertida em julho do mesmo ano pela Justiça. No pronunciamento desta terça-feira, Yoon criticou os pedidos de afastamento de integrantes de seu governo, afirmando que “ é uma situação que não é apenas sem precedentes em qualquer país do mundo, mas também completamente sem precedentes desde a fundação do nosso país”.
Yoon Seok-yeol fez fama como promotor em grandes casos de corrupção, incluindo o da própria ex-presidente Park Geun-hye, afastada do cargo em 2017 e presa. Em 2017, participou do processo que levou mais um ex-presidente conservador para a cadeia: Lee Myung-bak. Seu apoio entre os progressistas aumentou nesse período, e foi essencial para o próximo e mais importante passo.
Em 2019, Moon Jae-in, entusiasmado por suas visões de reforma no Judiciário, o indicou para procurador-geral, uma decisão que até hoje assombra o atual presidente. Uma vez no cargo, Yoon passou a investigar integrantes do governo, como o ministro da Justiça, Cho Kuk, que deixou o ministério meses depois. A mudança de rumo colocou seu nome no radar dos conservadores.
A ascensão meteórica não durou muito — em boa parte, por culpa do próprio Yoon: o ex-promotor rapidamente ganhou o apelido de “Uma gafe por dia”, por conta de suas declarações desastradas. No final de 2021, ele fez comentários que sugeriam uma glorificação do ex-ditador Chun Doo-hwan (1980-1988), condenado à morte (sentença posteriormente revista) pela participação no Massacre de Gwangju, em 1980, quando centenas de manifestantes pró-democracia foram executados.
Em julho daquele ano, Yoon se filiou ao PPP, sua primeira experiência política, e se apresentou como pré-candidato, desafiando nomes tradicionais, como o congressista Hong Joon-pyo. Depois de primárias marcadas por duros ataques pessoais, Yoon se beneficiou das regras do partido, que priorizavam a opinião do chamado “núcleo duro”, mais favorável ao seu nome, e foi confirmado como candidato. As informações são do jornal O Globo e da agência de notícias AFP.