Não existe uma organização que possa ser apontada como líder da paralisação – na verdade, a proposta de greve começou a circular de forma espontânea em redes sociais e grupos de WhatsApp de caminhoneiros. Mas uma das principais entidades envolvidas é a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), que congrega a maioria dos sindicatos de motoristas autônomos.
Outros sindicatos de caminhoneiros se juntaram aos protestos ao longo dos dias, como a Abcam (Associação Brasileira de Caminhoneiros) e a Unicam (União Nacional dos Caminhoneiros do Brasil). O movimento acabou engrossado pelos caminhoneiros de frota também – isto é, por aqueles que são contratados, com carteira assinada, por transportadoras.
“Começou com os autônomos. Mas como a situação está ruim para todos, as empresas (e os motoristas contratados por elas) também aderiram. E aí surgem várias associações, várias pessoas querendo representar. Tem também alguns que são pré-candidatos (às eleições de 2018)”, diz o caminhoneiro Ivar Schmidt, um dos principais líderes dos protestos de caminhoneiros de 2015, que afirma não estar à frente das movimentações atuais.
O governo foi alertado, recebeu avisos de entidades sindicais dos caminhoneiros sobre a possibilidade de uma paralisação. No dia 16 de maio, a CNTA apresentou um ofício ao governo federal pedindo o congelamento do preço do óleo diesel e a abertura de negociações, mas foi ignorada. No dia 18, a organização lançou um comunicado em que mencionava a possibilidade de paralisação a partir de segunda-feira, o que de fato ocorreu. Segundo a CNTA, a paralisação estava sendo discutida “pelos caminhoneiros e sindicatos da categoria, nas redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas”.
Um vídeo publicado na página do Facebook Transporte FORTE Digital já convocava os motoristas para a greve. Apesar da reunião com o governo, a paralisação foi mantida e não há data prevista para o fim do movimento. A principal exigência é a queda no preço do óleo diesel: segundo os representantes dos transportadores, o custo atual do óleo torna inviável o transporte de mercadorias no País.
“Hoje, um caminhão grande usa até R$ 2 mil de óleo diesel por dia. Isso aí no fim do mês é um rio de dinheiro”, afirma Ivar Schmidt. A margem de lucro da atividade é tão baixa, diz Schmidt, que hoje os caminhoneiros trabalham “só para cumprir tabela (sem ganhar nada)”, diz ele.
Para reduzir o preço do diesel, as entidades querem que o governo estabeleça uma regra para os reajustes do produto – hoje, os preços flutuam de acordo com o valor do petróleo no mercado internacional e a cotação do dólar.
Além disso, há outras reivindicações na pauta dos caminhoneiros, diz Ariovaldo de Almeida Silva Júnior, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros (Sindicam) de Ourinhos (SP). “Queremos também a isenção do pagamento de pedágio dos eixos que estiverem suspensos (quando o caminhão está vazio e passa a rodar com um dos eixos fora do chão). Defendemos a aprovação do projeto de lei 528 de 2015, que cria a política de preços mínimos para o frete, e a criação de um marco regulatório para os caminhoneiros”, lista ele.
“O caminhoneiro faz um cálculo do custo do frete (antes de partir). Agora, o caminhoneiro às vezes viaja durante cinco dias. Teve semana que o diesel subiu todos os dias (invalidando a estimativa de custo)”, diz ele.
Após 72 horas de paralisação, os efeitos da greve de caminhoneiros foram sentidos em várias partes do País e em vários setores econômicos. Quem está com o tanque do carro vazio também pode ter problemas ao tentar pegar um ônibus: as empresas já avisaram que terão dificuldade para retirar os veículos das garagens por falta de combustível.
Na alimentação, o impacto também já era sentido. Segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), as lojas de alguns Estados do País já começam a sofrer com o desabastecimento de alimentos, especialmente de produtos menos duráveis como frutas, verduras e legumes.