As tensões internacionais sobre o comércio certamente vão dominar a Cúpula do G20, mas a anfitriã Argentina espera fechar um acordo pela estabilidade global, embora as profundas discordâncias alguns dos países persistam. Em entrevista à agência de notícias AFP, o ministro argentino de Relações Exteriores, Jorge Faurie, disse que a reunião, que acontece sexta-feira (30) e sábado (1º), em Buenos Aires, entre os líderes das vinte potências mundiais deverá destacar a importância dos intercâmbios comerciais, à medida que os velhos diques contra o protecionismo se rompem.
Veja quem são os protagonistas desse encontro:
Arábia Saudita – O príncipe Mohamed bin Salman chega precedido pelo escândalo da morte do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul, o que ofusca sua imagem internacional. A ONG Human Rights Watch pediu à Argentina que processasse o príncipe herdeiro por essa questão e pela guerra no Iêmen. Em Buenos Aires, ele se encontrará pela primeira vez com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Em 2020, Riad sediará o G20.
Argentina – O presidente Mauricio Macri será o anfitrião dos líderes das potências globais no momento em que seu país, a terceira maior economia da América Latina, atravessa uma profunda crise econômica, com uma inflação anual de 45% e uma recessão que a enfraqueceu. Em um contexto de crise do multilateralismo, a presidência argentina do G20 espera encontrar pontos de consenso para chegar à declaração final.
Brasil – Quem irá a Buenos Aires é o presidente Michel Temer, que deixa o cargo no fim de dezembro. Todos os olhos estão voltados para o presidente eleito Jair Bolsonaro, que assumirá o cargo em 1º de janeiro com um governo ultraliberal, que deve virar as costas ao multilateralismo. Embora tenha sido convidado por Temer para o G20, o futuro líder da primeira economia da América Latina declinou o convite por motivos de saúde.
Chile – O presidente Sebastián Piñera, um empresário multimilionário, defende o livre comércio e se opõe a qualquer forma de protecionismo. Se propôs a fortalecer a economia digital e a sociedade do conhecimento e da informação. O Chile participa do G20 como país convidado.
China – O presidente chinês, Xi Jinping, será um dos principais protagonistas do encontro do G20: ele se encontrará com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em meio a uma escalada da retaliação tarifária entre Pequim e Washington que está abalando a economia global. Xi defende o multilateralismo e se opõe ao protecionismo. Mas americanos e europeus denunciam os muitos obstáculos enfrentados por suas empresas estabelecidas no gigante asiático, bem como práticas desleais.
EUA- Dez anos após a primeira cúpula do G20, que prometia defender o multilateralismo, Donald Trump aparece em Buenos Aires como promotor do “America First” (“Estados Unidos primeiro”). Em várias reuniões bilaterais, ele procurará impor sua agenda. Com relação à China, seu governo disse que há “boa chance” de as duas nações chegarem a um acordo sob certas condições. Como sempre, as ações do imprevisível presidente dos EUA serão examinadas minuciosamente: na reunião do G7, no Canadá, Trump rejeitou a declaração final no último momento.
França – Em um G20 que parece “conflitante”, o presidente Emmanuel Macron se esforçará para promover uma reforma da Organização Mundial do Comércio e preservar o Acordo de Paris sobre o clima, apesar das tensões entre a China e os Estados Unidos, que podem dominar a agenda. O encontro entre Macron e Trump promete ser frio.
México – O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, entrega o cargo em 1º de dezembro ao esquerdista Andrés Manuel López Obrador. Mas isso não passará despercebido, pois, à margem da cúpula, espera-se a assinatura do novo acordo de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá, que substitui o NAFTA. Além disso, seu país é palco de uma onda migratória da América Central, que está avançando em direção aos Estados Unidos.
Reino Unido – Na primeira viagem de um líder do governo britânico à Argentina desde a Guerra das Malvinas, em 1982, Theresa May provavelmente estará com sua cabeça em Londres. A primeira-ministra conservadora enfrenta uma votação crucial, em 11 de dezembro, no Parlamento, sobre o acordo do Brexit, ameaçado por alguns deputados céticos. No caso de deixar a União Europeia, Londres depende muito de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, seu aliado.
Rússia – Com uma economia estabilizada desde a crise 2014-2015 ‑ baixa inflação, déficit controlado -, o presidente Vladimir Putin também será uma figura- chave no encontro de dois dias, já que seu país está no centro dos principais problemas internacionais: a guerra na Síria, a crise com a Ucrânia, além das tensões russo-americanas.