O presidente Jair Bolsonaro avaliou nesta sexta-feira (3) que o ditador Nicolás Maduro não deixará o poder na Venezuela se a Forças Armadas não foram enfraquecidas.
Em conversa com jornalistas, na saída de cerimônia de formatura de diplomatas em Brasília, ele disse esperar que a divisão iniciada na base das forças militares se estenda para os generais da cúpula, que seguem leais ao ditador.
“A gente espera que essa fissura, que está na base do Exército, vá para cima. Não tem outra maneira. Se você não enfraquecer o Exército da Venezuela, o Maduro não cai”, afirmou.
No início de seu discurso aos diplomatas, o presidente afirmou que quando os integrantes da diplomacia falham, as Forças Armadas acabam atuando. “E torcemos muito para não entrarmos em campo”, acrescentou.
Após o evento, Bolsonaro foi questionado sobre o quis dizer com a frase. Ele afirmou que quando a diplomacia não consegue solucionar um conflito de forma pacífica, ele acaba se tornando uma disputa armada.
“Quando acaba a saliva, entra a pólvora, não queremos isso.” Ele disse que se referia a um cenário hipotético e não à disputa interna na Venezuela.
O presidente também disse a jornalistas que não tem o que dialogar neste momento com Maduro. Segundo ele, o que o governo brasileiro deseja, que é a sua saída do cargo, ele não atenderá.
“Não tem o que conversar com ele. O que nós queremos, no meu entender, ele não vai ceder”, disse.
Em fevereiro, Bolsonaro declarou apoio ao líder oposicionista Juan Guaidó, que iniciou movimento nesta semana para tentar derrubar o ditador.
Ao todo, quatro civis morreram em protestos contra Maduro e cerca de 200 pessoas ficaram feridas nos dois primeiros dias de protestos, segundo dados da ONG Foro Penal.
Guaidó convocou passeatas para o sábado (4). O plano é ir até os principais quartéis da Venezuela, em um novo desafio ao ditador após a frustrada rebelião militar de terça-feira (30).
Apesar disso, Bolsonaro afirmou que está mais preocupado com uma eventual vitória da senadora Cristina Kirchner nas próximas eleições presidenciais na Argentina do que o conflito interno na Venezuela.
“A minha maior preocupação é com a Argentina hoje em dia”, respondeu o presidente ao ser questionado sobre a crise política na Venezuela. “Vai no limite do [Palácio do] Itamaraty”, acrescentou quando questionado sobre o que o Brasil poderia fazer.
Ele já tinha feito uma declaração semelhante na quinta-feira (2), durante entrevista ao SBT.
A sucessão presidencial na Argentina também ocupou parte do discurso de Bolsonaro aos futuros diplomatas, em cerimônia promovida no Ministério de Relações Exteriores. Sem citar nominalmente Kirchner, ele disse que a volta da ex-presidente de esquerda ao país vizinho poderia criar uma “nova Venezuela” na América do Sul.
“Além da Venezuela, a preocupação de todos nós deve voltar-se à Argentina, sobre quem poderá voltar a governar aquele país”, afirmou. “Não queremos, o mundo inteiro não quer, outra Venezuela mais ao sul do nosso continente”, acrescentou.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais, promovida na quinta, Bolsonaro também já tinha mencionado a sucessão eleitoral da Argentina e apelado aos eleitores do país vizinho para que não reconduzam a ex-presidente, que comandou a Argentina de 2007 a 2015.
Macri tem uma postura alinhada à de Bolsonaro, mas seu governo tem enfrentado uma crise econômica e seu desempenho em sondagem recente foi inferior ao da senadora em um eventual segundo turno. A eleição presidencial está marcada para 27 de outubro.
Bolsonaro disse que se o governo atual não tem tido um desempenho satisfatório, é necessário ter paciência, uma vez que, na opinião dele, Macri ainda pode melhorá-lo. Em sua fala, o presidente pediu até mesmo a Deus para que Cristina não volte ao comando da Casa Rosada.
Cristina deve se sentar pela primeira vez no banco dos réus no dia 21 de maio, em julgamento que envolve a acusação de desvio e lavagem de dinheiro público por meio dos hotéis que pertencem à família Kirchner na Patagônia.
Mesmo investigada, ela pretende concorrer ao cargo. O anúncio oficial deve acontecer no próximo dia 20, no estádio do time de futebol Racing —um dos mais tradicionais do país. Cristina pode responder ao processo, mas, se a Justiça determinar sua prisão, precisa pedir ao Congresso que retire seu foro privilegiado.
A situação econômica da Argentina vem piorando, com aumento da inflação —que chegou a seu recorde desde 1991, com 4,7%, em março— e da pobreza, que já atinge 32% da população. Esse quadro vem debilitando as chances de reeleição de Macri.