Segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de novembro de 2017
Durante um evento em São Paulo, o presidente da Mercedes-Benz para o Brasil e América Latina, Phillip Schiemer, afirmou que quase as indústrias do setor quebrarão no País, caso ocorra uma abertura do mercado automotivo nacional, com redução de alíquotas de importação, conforme sugerido por um relatório do Banco Mundial. “Sem dúvida, se amanhã isso acontecer, as portas de quase todas as indústrias aqui poderão se fechar.”
A sugestão para a redução de incentivos à indústria automotiva consta de um diagnóstico setorial do Banco Mundial sobre a economia brasileira: um País que gasta muito e mal e que precisará fazer escolhas duras para ajustar as suas contas, além de se abrir para o mercado global.
Divulgado no dia 21 de novembro, esse estudo havia sido encomendado pelo governo da então presidenta Dilma Rousseff, em 2015, a fim de propor medidas que reduzissem os gastos do setor público. O resultado apresentado ao ministro da Fazenda na época, Joaquim Levy, foi um receituário liberal com propostas que vão desde o congelamento do salário dos servidores até o fim do ensino superior gratuito.
O estudo também cita especificamente o Inovar-Auto, direcionado ao setor automotivo. Condenado pela OMC (Organização Mundial do Comércio), o programa obteve resultados “questionáveis” sobre a produção, a produtividade e o emprego, criticaram os técnicos do Banco Mundial.
O estudo compara o desempenho das fábricas de automóveis, beneficiados com o programa, como a de máquinas agrícolas, que não foi atendida – e diz que os dados são semelhantes.
Instabilidade
Na opinião do executivo da montadora alemã, no entanto, o estudo ignora o cenário de falta de previsibilidade que as multinacionais vivem no Brasil. “Amanhã vamos abrir o País, ótimo. E daqui a dois anos, vamos fechar o País de novo? Então o maior problema para a indústria automobilística nacional é a falta de previsibilidade”, disse.
Esse segmento, ressaltou o presidente regional da Mercedes, precisa de uma previsão do que vai acontecer nos próximos 20 ou 30 anos. “Os ciclos de investimentos (são longos), fala-se em cinco a sete anos para automóveis e em 15 anos para caminhões e ônibus. Então precisamos de uma previsibilidade”, disse.
Outra questão a ser considerada é a produtividade e competitividade relativas da indústria brasileira, na visão do executivo. “Se eu olho a nossa indústria, a nossa fábrica por dentro, as coisas estão funcionando bem. A questão é o quanto estamos competitivos como país e como podíamos trabalhar aqui”, disse.
Falando especificamente sobre as críticas diretas ao Inovar-Auto, Schiemer defendeu que as montadoras tenham tempo para se adaptar ao fim do programa. “Não podemos achar que daqui a seis meses pode mudar todo o nosso modelo”, disse.
Nova política
Participando do mesmo evento, o assessor especial do Ministério da Fazenda para reforma microeconômica, João Manoel de Pinho Mello, discordou do presidente da companhia alemã, no que se refere ao Inovar-Auto. Segundo ele, o governo federal gostaria de transitar com suavidade, mas infelizmente terá de “trocar o pneu” com o carro andando.
“No que se refere ao Inovar-Auto e possivelmente à política que o substituirá, eu acho melhor não fazermos o substituto sem que tenhamos uma ideia precisa do que a gente quer com isso e como transitar”, disse Pinho Mello. O assessor lembrou ainda que o programa de incentivo a montadoras foi considerado ilegal pela OMC – o que elevaria a pressão por uma saída alternativa ao Inovar-Auto.