Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de junho de 2024
Organização que conecta cidades à agenda climática global, o C40 Cities, que compõe o grupo de engajamento para cidades do G20, trabalha sob a premissa de que a articulação governamental em vários níveis é central para mitigar os impactos da crise climática. A rede global reúne cem prefeituras das maiores cidades do mundo, entre elas, cinco brasileiras: Rio, São Paulo, Curitiba, Salvador e Fortaleza.
A rede tem base na ciência e busca, de forma colaborativa, soluções para reduzir pela metade a cota de emissões até 2030, ajudar a limitar o aquecimento global a 1,5°C e construir comunidades saudáveis, equitativas e resilientes.
O diretor-executivo do C40, Mark Watts, avalia que há grande disposição dos líderes políticos para um trabalho conjunto que permita observar, compartilhar e aprender uns com os outros. “O que pedimos a todos os governos é que incluam formalmente os governos municipais ao conceberem os seus planos climáticos nacionais e ao implementá-los”, disse ao Valor, em visita ao Rio.
O debate emerge à luz da Coalizão para Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (Champ) para a ação climática, da qual o Brasil se tornou signatário no ano passado, na COP28, em Dubai. A iniciativa, que conta com a adesão de outros 70 países, recomenda um novo processo para que os líderes municipais e regionais participem do desenvolvimento das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa assumidos por cada país (NDCs).
Compromisso
Em 2023, o governo brasileiro se comprometeu a reduzir as emissões em 48% até 2025 e em 53% até 2030, em relação às emissões de 2005. Com metas graduais mais arrojadas de redução de emissões, o país almeja alcançar a emissão líquida zero em 2050. Agora, o C40 quer apoiar o Brasil em termos de negociação multinível — algo que será esperado do país na Conferência do Clima (COP30) que sediará no próximo ano em Belém (PA).
“Se quisermos enfrentar a crise climática, precisamos nos concentrar nas cidades. A maioria das pessoas vive nelas, portanto, é onde a maior parte das coisas é consumida e a maioria das emissões é causada”, destacou Watts.
Ele acrescentou que cerca de 75 das cidades associadas estão cortando as emissões mais rapidamente do que os respectivos Estados nacionais. “Isso precisa ser incorporado no plano nacional para obter dinamismo. Precisamos analisar como devolver o poder para o nível local e como implementar regulamentações que permitam que as cidades cumpram o que se comprometeram a fazer”, disse.
Segundo ele, esse processo pode ser tão simples quanto habilitar uma legislação, mas, muitas vezes, envolve acesso a financiamento. “Especialmente nos países do sul global, significa que o governo nacional não deve impedir o acesso a financiamento internacional, tanto público quanto privado.”
Líder do Programa Ambiental Bloomberg Philanthropies, Antha Williams acrescentou que o trabalho do país é central: “O Brasil é um dos maiores emissores [de gases de efeito estufa] do mundo, mas também é o local de muitas soluções encorajadoras. Descarbonizar, combater a poluição atmosférica, lidar com o desperdício de água e alimentos e, assim, ver essas soluções serem incorporadas mais plenamente nas conversas relacionadas com o clima da ONU é uma grande prioridade para nós e algo em que todos temos trabalhado juntos há mais de uma década”.
Papel estratégico
Tanto Williams como Watts acreditam que o Brasil tem um papel estratégico na pauta global de mitigação de impactos climáticos, sobretudo como presidente do G20 neste ano e como sede da Conferência do Clima das Nações Unidas no ano que vem (COP30). “Há uma grande oportunidade para o Brasil de reunir com algo muito concreto o que parece muito abstrato para a maioria das pessoas no mundo, e todos entendem que a floresta amazônica precisa ser protegida para que toda a ação climática funcione”, disse Watts.
Na avaliação dele, o caminho para proteger a Amazônia é criar bons empregos verdes nas cidades brasileiras. “Ter na liderança do Brasil no G20 o foco na fome, na pobreza e na inclusão social como parte da mensagem climática é um ponto de partida que, na minha opinião, pode realmente repercutir em todo o mundo.”