Especialistas criticaram o fato de agentes da Força Nacional de outros Estados não terem supostamente tido instruções suficientes antes da Olimpíada sobre as áreas dominadas por traficantes no Rio de Janeiro. Para eles, se os soldados tivessem um conhecimento maior do território, não teriam entrado por engano na Vila do João, no Complexo da Maré, nesta semana. O erro custou a vida do agente da Força Nacional Hélio Andrade, baleado durante o ataque a um carro da corporação no local.
Planejamento falho.
Para o coronel da reserva da Polícia Militar e ex-secretário de Segurança Nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, “faltou planejamento” em relação a cálculos de riscos. Ele defende que cada viatura da Força Nacional deveria conduzir também um policial militar do Rio. “São os policiais cariocas que conhecem bem as áreas de risco. Por isso seria de extrema importância que eles seguissem embarcados nas missões com os integrantes da Força Nacional.
Os componentes da Força são de origens bem diferentes, com formações e disciplinas diferentes”, defende José Vicente, lembrando que habitualmente nenhum policial costuma confiar em GPS para trafegar em regiões que exigem maior atenção por conta da violência, pois podem ser induzidos pelo aparelho a entrar indevidamente em redutos de bandidos.
Ser um alvo virou rotina no Rio.
A rotina de pessoas baleadas e mortas ao entrar equivocadamente de carro na Vila do João e em outras favelas conflagradas por traficantes no Rio e na Região Metropolitana é antiga. Em julho de 2013, por exemplo, o engenheiro baiano Gil Augusto Barbosa, morreu depois de ter ficado internado por um mês, em função de um tiro na cabeça, ao errar o caminho e acessar por engano a Vila do João. Na época, uma parente que estava com Gil, que iria buscar a esposa no Aeroporto do Galeão, definiu o desespero enfrentado durante o ataque: “É como se você, de repente, caísse no abismo e não tivesse onde se segurar.”
Em maio do mesmo ano, o assistente de direção da TV Globo, Thomaz Cividanes foi baleado no pé por traficantes, depois de entrar por engano no Morro do Dezoito, em Água Santa, na Zona Norte. Ele viajava no seu Volkswagen Tiguan e inseriu no GPS do carro o endereço para onde iria: a rua Jornalista Tim Lopes. No entanto, seguindo indicações erradas do aparelho, acabou entrando na comunidade.
Mais casos.
Em outubro de 2015, Regina Múrmura, morreu, baleada por três tiros, após entrar por engano na favela do Caramujo, em Niterói. Ela estava indo com o marido, José Francisco Antônio Múrmura, a um restaurante, seguindo informações do aplicativo de trânsito Waze, mas caiu em uma emboscada de dez traficantes, que atiraram 20 vezes contra o carro. Em agosto do ano passado, o carro da atriz Fabiana Karla foi atingido por tiros também em Niterói, na mesma comunidade, mas ninguém se feriu. Ela seguia para um evento, com a orientação de GPS, e chegou ao local por engano. (AD)