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Segue o esforço para desvendar o enigma do BNDES

Deputada revelou que havia uma espécie de “caixa-preta” dentro da instituição. (Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados)

A deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF), vice-presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), revelou que havia uma espécie de “caixa-preta” dentro da instituição. Com base em documentos sigilosos entregues pelo Ministério da Economia à CPI, que investiga irregularidades nos empréstimos do banco realizados no exterior, ela informou que os funcionários concursados do banco eram coniventes porque acabavam tendo aumento de salário quando os créditos eram concedidos, entre 2003 e 2015.

“Os documentos mostram que eles mudaram o plano de cargos e de salários. Nisso, o que acontecia? Eles (funcionários do BNDES) se calavam para ter uma remuneração maior. Quanto mais se emprestava, mais se recebia. Isso é uma caixa-preta. É uma corrupção que você tinha ali, dos servidores, para não falarem nada. Existiam até e-mails que diziam ‘Gente, está chegando dia 30, temos que fechar as cotas’”, destacou a deputada. Ela contou que os parlamentares tiveram dificuldades para convocar as pessoas devido ao excesso de habeas corpus que impediu a audiência de 16 dos 21 nomes chamados para as oitivas.

Quarta-feira (18), foi o último dia de audiência na CPI do BNDES. Os parlamentares têm até 22 de outubro para entregar o relatório final. No entanto, a vice-presidente da comissão informou que pretende terminar o documento até o próximo dia 10.

De acordo com a deputada, esse expediente aconteceu durante a gestão de Luciano Coutinho no banco estatal, quando houve a mudança do plano de cargos e salários, que atualmente está sob sigilo.

Procurado, o BNDES informou que não recebeu os questionamentos do Correio em tempo hábil. “Diante do fechamento iminente do jornal, restou prejudicada qualquer possibilidade de o BNDES se manifestar propriamente em relação aos apontamentos da deputada”, disse a assessoria de imprensa da instituição, em nota.

Segundo a deputada, o plano contemplou todos servidores da instituição. “É lógico que havia diretores que faziam com que seus técnicos aprovassem aquilo de uma maneira adequada, porque refletia diretamente no salário deles. Existem, inclusive, diretores sob suspeita, porque a gente percebe assinatura digital deles em vários outros contratos, que não tinham respaldo do risco”, afirmou.

Gaveta

Paula Belmonte disse, ainda, que a CPI descobriu supostos “contratos de gaveta, com valores superfaturados” entre o BNDES e empresas, como a JBS e o Grupo Bertin. Segundo ela, diversos sócios minoritários dessas companhias tiveram prejuízos com a “manipulação de contratos”. “Descobrimos isso porque hoje existe uma briga com o grupo JBS e Bertin. Vários sócios minoritários estão tendo um prejuízo enorme com essa manipulação. Nós costumamos dizer, e isso é até uma palavra do Ministério Público, que esse quase foi um crime perfeito, mas eles se esqueceram de um detalhe: fizeram o superfaturamento de uma empresa que praticamente não valia nada, e esqueceram que, quando fizeram esse superfaturamento, isso incidiria em impostos”, disse a deputada.

“Conseguimos verificar que era uma orquestra”, declarou.

Na entrevista, a parlamentar também criticou a mudança de avaliação de risco, promovida pela Câmara de Comércio Exterior para países alinhados politicamente ao governo da época. Segundo ela, o órgão alterou “sem nenhum tipo de estudo”, determinações sobre os riscos de empréstimos a países que, em condições normais, não teriam condições de tomar empréstimo do BNDES porque tinham risco elevado, entre eles, Cuba. “Quanto menor o risco, mais dinheiro eu empresto, então, quando se diminui o risco, você está emprestando valores maiores e com benefícios como juros subsidiados, em condições muito melhores”, explicou a deputada.

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