Responsável pela segurança do Palácio do Planalto, o militar José Eduardo Natale de Paula Pereira afirmou em depoimento à Polícia Civil que havia 40 homens para proteger o Palácio do Planalto no último domingo (8), quando golpistas invadiram as sedes dos Três Poderes da República.
Os números apresentados por Pereira aos investigadores reforçam que o contingente era insuficiente para vedar o Planalto em meio às ameaças de invasão à sede do Poder Executivo. Questionado pelos policiais, o militar afirmou que só no Salão Nobre do segundo pavimento do Planalto havia cerca de 700 pessoas, ou seja, o equivalente a 17 invasores para cada segurança.
Escalada para o plantão de domingo, Pereira afirmou à Polícia Civil que por volta das 14h ouviu o barulho da chegada de manifestantes radicais em frente ao Palácio do Planalto.
“Havia gritaria, barulho de cornetas e barulho de bombas. A maioria deles vestia roupas verde e amarelo e outras roupas camufladas e desferiam palavras de ordem contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, informando que não aceitavam ele como presidente legítimo”, declarou Pereira. “Havia por volta de 40 homens na tropa de choque do GSI para fazer a contenção dos milhares de manifestantes”, acrescentou.
O servidor explica que, assim que percebeu o avanço dos invasores, correu para o terceiro andar, em direção ao gabinete do presidente da República para proteger a sala. “Nesse andar, já estavam dois manifestantes que vandalizavam, isto é, quebrando vidros, portas, obras de arte, extintores e outros objetos”, diz.
Pereira é responsável pela proteção dos quatro palácios da presidência — Planalto, Alvorada, Jaburu e a Granja do Torto, além de seus respectivos anexos. Em depoimento, ele conta que os invasores “utilizavam de violência e ameaça”, atirando pedras nas tropas de segurança. Inicialmente, eles entraram pelas janelas quebradas com uso de barra de ferro e pedras. Em seguida, continua, acessaram as portas do primeiro e segundo pisos do local.
Pereira apresentou à polícia uma lista de itens roubados do Palácio do Planalto. No térreo, segundo ele, foram furtados cassetetes, sprays de pimentas e 11 aparelhos de choque elétrico, sendo que dois destes foram recuperados.
Plano escudo
Pereira ainda contou que, enquanto os manifestantes se movimentavam em direção ao Congresso Nacional, a poucos metros do Planalto, acionou o plano “escudo”, que envolvia o reforço da Polícia Militar do Distrito Federal e do Exército Brasileiro para impedir invasões nos órgãos governamentais.
“Mesmo com o acionamento das frentes de defesa, os manifestantes conseguiram romper as barreiras fixas e as linhas de defesa das forças de choque e chegaram até o espelho d’água. No espelho d’água, os manifestantes foram contidos por alguns minutos pelas forças de segurança”, explica Pereira.
O militar também narra que tentou uma negociação com os manifestantes que estavam mais próximos. Neste momento, segundo ele, outros golpistas se desvencilharam dos bloqueios e tentaram subir a rampa do Palácio do Planalto. “Embora esses manifestantes tenham sido contidos por alguns minutos, conseguiram romper os bloqueios e tiveram acesso à marquise do Palácio do Planalto”, diz Pereira.
O militar contou ainda que, quando as forças de segurança retomaram o controle do local, os terroristas se sentaram, se ajoelharam e começaram a rezar e cantar o hino nacional. “Os policiais militares começaram a realizar a desocupação do Palácio do Planalto quando outros policiais da tropa de choque da PM chegaram. O comandante desta tropa deu voz de prisão aos manifestantes invasores”.