Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de janeiro de 2025
Além de fazer bonito na culinária, ela tem se destacado em estudos pela atuação em prol da saúde, especialmente a do coração.
Foto: Tai/Adobe StockPimenta-preta, jalapeño, caiena, biquinho, dedo-de-moça, há séculos essa turma ardida desfila cores, cheiros e sabores em preparações pelos quatro cantos do mundo. Reza a lenda que europeus desbravavam oceanos para colocar tais temperos nas suas panelas. De uns tempos para cá, as pimentas também têm se destacado nos laboratórios de pesquisa. Um dos estudos mais quentes, que acaba de sair no periódico científico International Journal for Vitamin and Nutrition Research, aponta a relação entre o consumo regular da malagueta com a redução risco de problemas cardiovasculares, entre outros benefícios.
Diversos trabalhos já mostravam essa atuação das pimentas vermelhas, isso porque reúnem uma porção de ingredientes de ação antioxidante, caso dos carotenoides, dos flavonoides e da vitamina C. E não faltam evidências de que juntos, em sinergia, blindam o endotélio, isto é, o tapete celular que recobre as artérias, resguardando-as de machucados.
Também há indícios de que o fruto da pimenteira favoreça a vasodilatação, melhorando a circulação sanguínea, num mecanismo que defende o coração.
Outra pesquisa recente, de cientistas sul-africanos e publicada na revista técnica Molecules, atesta a proteção contra a síndrome metabólica – quadro que envolve obesidade abdominal e alterações nas taxas de açúcar e de colesterol no sangue – e que coloca também o peito em perigo.
Nesse trabalho, os estudiosos destacam o poder de fogo de duas substâncias: a piperina, vinda da pimenta-preta, e a capsaicina, encontrada no time das vermelhas.
“Estudos anteriores apontam a ação anti-inflamatória e antioxidante desses compostos”, comenta a nutróloga Isolda Prado, da Associação Brasileira de Nutrologia, a ABRAN, e professora da Universidade do Estado do Amazonas.
Para além da coleção de benefícios, essa dupla também responde pela sensação picante, aquela que provoca as chamas na boca.
Segredos ardidos
Embora tenham essa característica especial em comum, elas são de famílias bem diferentes.
As espécies do gênero botânico chamado Capsicum são frutos que, apesar de tamanhos, coloração e formatos variados, têm a mesma origem: são americanas. Inclusive, relatos indicam que Colombo descobriu essas pimentas em sua segunda visita ao nosso continente.
A quantidade de moléculas capsaicinoides pode variar. Fatores como a constituição genética da pimenteira e até mesmo as condições de cultivo, a temperatura e a umidade durante o crescimento dessas plantas, interferem com a concentração.
“Existe uma medida, chamada Scoville, para o teor picante de cada uma e que considera justamente a quantidade dessa substância”, diz a nutricionista Andrea Esquivel, presidente da Associação Paulista de Fitoterapia (APFIT).
Só para comparar, a primeira colocada é a Carolina Reaper, com ardência que chega a 2 milhões de pontos na escala, já a malagueta alcança 100 mil, enquanto a biquinho atinge a marca de mil.
“E a sensibilidade para a picância varia de acordo com a frequência no consumo. Cada um sabe dos seus limites”, comenta a nutricionista.
Andrea conta que, em alguns países asiáticos, o tempero aparece desde cedo, já na infância. “Tem criança que leva até pão com pimenta na merenda escolar”, brinca.
As moléculas por trás do sabor pungente provocam efeitos irritantes e prazerosos quase ao mesmo tempo. Ao entrar em contato com as membranas da boca, do nariz e da garganta, desencadeiam um sinal de dor. Então, de célula em célula, a mensagem chega ao cérebro, que reage produzindo endorfinas relacionadas ao alívio e bem-estar.
Pessoas acostumadas e resistentes pedem mais, mas tem quem prefira distância. “Também não é indicada para indivíduos com gastrite e hemorroidas”, sinaliza Isolda.
Não significa que provoque esses males, mas sim que é capaz de desencadear sintomas em pacientes que já apresentam tais distúrbios.
E, para atenuar a ardência, Andrea, que também é professora de culinária, ensina a retirar as sementes e aquela parte mais branquinha, no meio do fruto. É ali que se concentra a capsaicina.
(Estadão Conteúdo)