Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de março de 2022
Cruzar com europeus no mata-mata virou a grande barreira para o Brasil nas últimas Copas. Em 2006, caiu para a França. Quatro anos depois, para a Holanda. Em 2014, o atropelo para a Alemanha. Por fim, em 2018, a queda para a Bélgica. Por isso, são inevitáveis os questionamentos sobre o quanto a seleção está preparada para enfrentá-los. Nos Mundiais anteriores, foi possível chegar com alguma noção. Desta vez, Tite está no escuro. Chega ao Qatar tendo feito só um jogo com rivais do Velho Continente em todo ciclo: contra a Repúblico Tcheca, que completa neste sábado (26) três anos.
Tite já manifestou sua preocupação com a falta de confrontos com europeus. Em mais de uma vez, suplicou por uma oportunidade de medir forças com adversários do outro lado do Atlântico. Mas ela não deve ser atendida até o Qatar. O calendário de seleções da Uefa praticamente inviabilizou qualquer possibilidade. Os jogos pela Eurocopa (incluindo fase qualificatória) e pela Liga das Nações preencheram as datas Fifa. As poucas que ainda poderiam ser aproveitadas foram perdidas com a prorrogação das Eliminatórias continentais devido à pandemia. Um cenário que deixa a dúvida: o quanto este hiato pesará na preparação?
“Faz muita falta (não jogar contra europeus). Em 1993, 1994, a gente fazia partidas na Europa. Jogava contra Inglaterra, Alemanha…”, opina Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção nos Mundiais de 1994 e de 2006. “É um intercâmbio para ver a intensidade, velocidade, as características de seleções que a gente enfrenta na Copa.”
A maioria dos jogadores da seleção atua na Europa e está acostumada a jogar contra os atletas que enfrentarão no Qatar. A principal perda é coletiva. O time de Tite ataca como os principais rivais europeus: com cinco homens (às vezes, seis), sendo dois alargando o máximo possível os lados do campo. E, justamente por essa mecânica já ser padrão por lá, as defesas também são mais preparadas para neutralizá-la. Um exemplo disso foi dado esta semana pela surpreendente Macedônia do Norte, que resistiu à pressão da Itália e deixou a atual campeã da Eurocopa fora de sua segunda Copa seguida.
“As seleções da Europa são pensadas para neutralizar as amplitudes dos dois pontas. E também o jogo entre linhas, como as tabelas do Neymar e do Paquetá”, analisa Leonardo Miranda, responsável pelo blog Painel Tático. “São defesas melhor postadas do que as daqui da América. Seria uma chance para o Tite aprimorar seu estilo de jogo com a bola.”
Defensivamente, Tite também teria o que melhorar diante dos europeus. Primeiro pelas jogadas de bola parada, com as quais os brasileiros são pouco testados na América do Sul. E, principalmente, pelos contra-ataques rápidos e bem ensaiados, espécie de resposta a equipes que não abrem mão de propor o jogo, como é o caso do Brasil.
“Enfrentar o Peru é diferente de enfrentar a Dinamarca, a Noruega, que tem o Halland, ou Portugal, que é essencialmente um time de contra-ataques. São jogos que poderiam melhorar a organização defensiva do Tite neste momento de recuperar a bola”, completa Miranda.
Claro que o desafio não é só para Tite. De uma maneira geral, sul-americanos e europeus tiveram poucas oportunidades de se enfrentar depois da Copa da Rússia. Assim como os brasileiros, a Argentina de Messi só fez um jogo: contra a Alemanha, em 2019. O Uruguai pôde fazer dois testes: diante da então recém-campeã do mundo França, em 2018, e da Hungria, um ano depois. Já os equatorianos não tiveram nenhum contato com adversários do Velho Continente.
Como se trata de uma via de mão dupla, os europeus também perdem. Entre as oportunidades desperdiçadas, a de testar suas defesas contra equipes que atuam com meias mais cerebrais, traço comum do futebol sul-americano. Mas este já não é um problema para Tite.